quarta-feira, 4 de junho de 2014

PROFISSÃO: REPÓRTER – CASOS E PERIPÉCIAS

REPÓRTER CHEGA ATRASADO
E PERDE NOÇÃO DE SENSIBILIDADE

JOAQUIM MACEDO JÚNIOR


(POR JOAQUIM MACEDO JÚNIOR) Dom Avelar Brandão Vilela (13 de junho de 1912 – 19 de dezembro de 1986) estava muito doente, internado em hospital aqui em São Paulo.

Algum tempo antes de falecer, d. Avelar convidou a imprensa paulista para um bate-papo informal. Como sempre atencioso e bem informado, falou sobre o seu estado de saúde, que merecia muitos cuidados – sofria de câncer no estômago – conversou sobre política, muito. Era assunto que dominava e no qual teve posição destacada no movimento de transição da ditadura militar para o regime civil, de início ainda por colégio eleitoral, depois por via direta.

Cardeal Avelar era bispo Primaz do Brasil, ou seja, ocupava a arquidiocese de Salvador-BA e irmão de Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas, baluarte na transição do país para o regime democrático.

Pois bem. A citação a d. Avelar é exatamente para lembrar (claro que não vou citar nomes) a falta de tato, de respeito e de oportunidade que, às vezes, nós, repórteres, perdemos em certas ocasiões, à guisa de levar para a emissora seu material original.
        
O colega a que me refiro chegou à coletiva-reunião no final – naquele caso foi mesmo um bate-papo; d. Avelar era auxiliado permanentemente por irmãs e o corpo médico do hospital, dada a fragilidade de sua saúde.

Quando estávamos nos despedindo, agradecendo a gentileza do bispo e desejando-lhe boa sorte, chega o repórter de última hora, esbaforido, agoniado e pedindo, ‘intimando mesmo’ às irmãs a que segurassem d. Avelar por mais um tempo para que ele fizesse sua “exclusiva”.

Aí o sangue subiu em todos os jornalistas presentes. Fulano fique tranqüilo, todos aqui temos gravações de rádio e TV e você pode usar o que quiser, mas não precisa forçar a barra para incomodar o bispo, não. Tanto quanto outros colegas, eu coloquei o material gravado à disposição do rapaz. Depois de muito penar, conseguimos que ele deixasse d. Avelar Brandão Vilela em paz.

Fiquei chocado e triste com aquilo. Pareceu-me estrelismo, irresponsabilidade e falta de respeito.

D. Avelar Brandão Vilela





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