REPÓRTER CHEGA ATRASADO
E PERDE NOÇÃO DE
SENSIBILIDADE
JOAQUIM MACEDO JÚNIOR |
(POR JOAQUIM MACEDO JÚNIOR) Dom
Avelar Brandão Vilela (13 de junho de 1912 – 19 de dezembro de 1986) estava
muito doente, internado em hospital aqui em São Paulo.
Algum
tempo antes de falecer, d. Avelar convidou a imprensa paulista para um
bate-papo informal. Como sempre atencioso e bem informado, falou sobre o seu
estado de saúde, que merecia muitos cuidados – sofria de câncer no estômago –
conversou sobre política, muito. Era assunto que dominava e no qual teve
posição destacada no movimento de transição da ditadura militar para o regime
civil, de início ainda por colégio eleitoral, depois por via direta.
Cardeal
Avelar era bispo Primaz do Brasil, ou seja, ocupava a arquidiocese de
Salvador-BA e irmão de Teotônio Vilela, o menestrel das Alagoas, baluarte na
transição do país para o regime democrático.
Pois
bem. A citação a d. Avelar é exatamente para lembrar (claro que não vou citar
nomes) a falta de tato, de respeito e de oportunidade que, às vezes, nós,
repórteres, perdemos em certas ocasiões, à guisa de levar para a emissora seu
material original.
O
colega a que me refiro chegou à coletiva-reunião no final – naquele caso foi
mesmo um bate-papo; d. Avelar era auxiliado permanentemente por irmãs e o corpo
médico do hospital, dada a fragilidade de sua saúde.
Quando
estávamos nos despedindo, agradecendo a gentileza do bispo e desejando-lhe boa
sorte, chega o repórter de última hora, esbaforido, agoniado e pedindo,
‘intimando mesmo’ às irmãs a que segurassem d. Avelar por mais um tempo para
que ele fizesse sua “exclusiva”.
Aí
o sangue subiu em todos os jornalistas presentes. Fulano fique tranqüilo, todos
aqui temos gravações de rádio e TV e você pode usar o que quiser, mas não
precisa forçar a barra para incomodar o bispo, não. Tanto quanto outros
colegas, eu coloquei o material gravado à disposição do rapaz. Depois de muito
penar, conseguimos que ele deixasse d. Avelar Brandão Vilela em paz.
Fiquei
chocado e triste com aquilo. Pareceu-me estrelismo, irresponsabilidade e falta
de respeito.
D. Avelar Brandão Vilela |
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