sexta-feira, 20 de junho de 2014

BRUNO NEGROMONTE

FERNANDA CUNHA PERPETUA EM DISCO MATIZES DO SELETO CARTÃO-POSTAL MUSICAL QUE APRESENTA MUNDO A FORA

Fernanda Cunha, cidadã do mundo, mostra-nos, sem abrir concessões, que a sua essência ainda se faz valer em suas mais genuínas influências.
Não é de hoje que a música brasileira se tornou um dos mais bem sucedidos produtos de exportação do nosso país. Desde a inserção de Carmem Miranda no mercado de entretenimento norte-americano com o espetáculo musical "Streets of Paris" em 1939, perpassando pelos 13 filmes onde a "pequena notável" atuou, sem esquecer também do clássico espetáculo Carnegie Hall em 1962 com a propagação de um gênero que posteriormente viria a se firmar como um dos ritmos brasileiro mais bem sucedidos no mundo: a bossa nova. 
Desde que o mundo ajoelhou-se diante do talento do nosso "maestro soberano" (como certa vez Chico Buarque definiu Tom Jobim) e suas complexas e inovadas harmonias que a música brasileira caiu de modo definitivo no gosto popular ao redor do mundo, sendo reconhecida como uma das mais inovadoras e ricas dentre as existentes. Nomes como Airto MoreiraFlora PurimIvan Lins entre tantos outros hoje colhem o fruto desse reconhecimento (e em alguns casos com uma carreira até mais bem sucedida no exterior do que aqui mesmo no Brasil).
Fernanda Cunha insere-se perfeitamente neste contexto e não foge à regra. Com mais de 15 anos de estrada e uma carreira cada vez mais sedimentada no exterior, Fernanda vem galgando seu espaço de modo bastante relevante longe das grandes gravadoras no mercado internacional. Isso talvez venha a justificar o apropriado título que a artista deu ao seu quinto álbum: Coração do Brasil. O disco, que conta com dez faixas e um repertório meticulosamente bem escolhido (característica já inerente à artista desde o primeiro trabalho "O tempo e o lugar", lançado em 2002). Neste intervalo de doze anos a artista já trouxe ao grande público uma justa homenagem a dois grandes baluartes da MPB com o álbum "Dois Corações", que trás uma viagem musical à Johnny Alf e Suely Costa; revisitou as parcerias de Tom Jobim e Chico Buarque em "Zínzaro" e, em parceria com músicos canadenses e brasileiros, trouxe-nos o álbum "Brasil - Canadá", onde a cantora apresenta-se também como autora de duas faixas.
Neste novo projeto cujo título é "Coração do Brasil" a artista conta mais uma vez com a presença da dupla Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques com o tema "Adeus América", samba que, de certo modo, fundamenta o título do álbum e que retrata a saudade do torrão natal da artista quando esta encontra-se longe do nosso país levando a nossa cultura pelo mundo afora. Versos como: "Não posso mais, ai que saudade do Brasil... Ai que vontade que eu tenho de voltar..." atestam isso. Tom Jobim, recorrente artista nos álbuns da cantora, está presente cem duas parcerias com Aloysio de Oliveira: "Eu preciso de você" e "Dindi".
 A dupla Ivan Lins e Vitor Martins também marcam presença dez anos depois da primeira doze anos depois da primeira aparição na discografia da artista mineira com a clássica "Somos todos iguais esta noite", gravada originalmente em 1977 e posteriormente em 1984 no álbum "Juntos" por Ivan.
O Rio de Janeiro vêm em cores, versos e poesia por intermédio das composições de artistas como o "poeta da VilaNoel Rosa (que traz o samba "Não tem tradução", de 1933), Daniel Gonzaga, que assina a faixa "Samba pro João" (do álbum "Os passos na paralela", de 1998, do cantor e compositor carioca) e uma composição da lavra da própria cantora intitulada "Rio", composição de Fernanda com a pianista Camilla DiasOutra compositora que sempre marca presença nos álbuns de Fernanda Cunha é a carioca Suely Costa, tia da cantora, e que também participa do disco ao piano. Dessa vez ela presenteia a sobrinha com a inédita "Perdido de Encantamento" (em parceria com Luiz Sergio Henriques). O disco ainda conta com mais dois nomes que figuram entre os compositores, são eles Marcio Hallack que assina (em parceria com o compositor Luiz Sergio Henriques) a faixa "Feito Andorinha" e Antonio Adolfo, que junto com o letrista Nelson Wellington assinam a canção que batiza o disco.
Assim se faz "Coração do Brasil", um disco com um repertório requintado baseado em muitos dos números apresentados pela artistas em suas apresentações no exterior, procurando manter-se coerente com a qualidade musical que caracteriza os álbuns que antecederam este novo projeto tais quais "Dois corações", "Zíncaro", "Brasil-Canadá" e principalmente "O tempo e o lugar", álbum que muito se assemelha a este recente trabalho devido a quantidade de compositores que figuram em ambos. "Alguns compositores do primeiro CD estão aí de novo, como se eu reafirmasse meu amor por eles: Sueli Costa, Ivan Lins, Haroldo Barbosa, Nelson Wellington e Márcio Hallack. Por outro lado, Coração do Brasil traz também compositores que estiveram na minha discografia e que estão sempre no meu repertório de shows, como Tom Jobim e Noel Rosa, além de um compositor da minha geração que tenho muita admiração, que é o Daniel Gonzaga. Então, é a Fernanda que eu sempre fui, fiel às minhas escolhas e aberta para o novo", define-se Fernanda Cunha.
Vale trazer ao conhecimento do grande público que a qualidade sonora do álbum é tecida por nomes como Cristóvão Bastos (piano), Zé Carlos (violão e guitarra), Jorjão Carvalho(baixo) e Jurim Moreira (bateria), Camilla Dias (piano) e Tom Szczesniak (acordeom) fazendo do disco uma grande confraternização, onde amigos e compositores se reencontram com a voz cristalina da artista novamente. Não é à toa que a artista vem galgando espaços cada vez mais significativos no exterior apresentando-se em diversos festivais musicais em torno do mundo, bebendo dessas fontes para somá-las as raízes tão arraigadas na artista mineira. "Eu encontro inspiração na beleza que é o Brasil, no jeito afetuoso que só o brasileiro tem, no amor da minha família, nos nossos compositores fantásticos, nos nossos músicos maravilhosos", fala a cantora e compositora, reconhecendo que suas andanças e contatos com artistas de várias lugares do mundo foi bastante importante para moldá-la do modo como hoje ela apresenta-se.
Fica aqui a título de conhecimento duas faixas deste distinto álbum dessa artista caracterizada por características ímpares. A primeira faixa um clássico do poeta da vila Noel Rosa sob o título de "Não tem tradução":

A segunda faixa trata-se da clássica "Adeus América", da lavra de da dupla Haroldo Barbosa e Geraldo Jacques. Gravada por nomes como João Gilberto, Jane Duboc, Rosa Passos, Os Cariocas e Wanderléa,  a canção ganha mais uma encorpada versão:

Nenhum comentário:

Postar um comentário