quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

NÚBIA NONATO

NAS ENTRANHAS 



Tinha acabado de atravessar a rua quando tive a nítida sensação de tê-lo visto... Entrei no prédio da Faculdade às pressas fugindo do sol tórrido do meio-dia. Fui direto para o elevador quando ouvi alguém pedindo que o esperasse. O meu coração bateu acelerado, aos pulos... eu sabia que era ele, não podia estar enganada.

Ele ficou atrás de mim, senti o seu perfume... era o mesmo. Esperava desesperadamente que tivesse me esquecido. Nem ousava respirar direito. Senti seus dedos me tocando de leve no braço e depois subindo para a minha nuca. Ele não me esqueceu...

Sua mão pesada acariciava meu pescoço enquanto eu ia perdendo o compasso da minha respiração. A porta do elevador abriu-se, mas ele não me deixou sair:

- Espera – pediu-me suavemente, segurando meu braço.

Sem olhar nos seus olhos, obedeci. Ele me puxou para uma pequena sala do nono andar, virou-me bruscamente forçando um beijo que a todo custo queria evitar, eu sabia que sucumbiria... Ele forçou-me a entreabrir os lábios com tamanha urgência que feriu-me. Fiz um último esforço para tentar desvencilhar-me, inútil, ele jamais medira a força que tinha e só o instiguei mais ainda.

Senti sua língua urgente, a saliva quente em minha boca. Colei meu corpo ao dele me entregando sem pudores. Ouvi seu gemido de satisfação quando eu o segurei pelos cabelos. Deixei-me possuir ali mesmo e tudo que estava a nossa volta desapareceu.

Tocava seu corpo com medo, mas com a mesma fome de ontem.. Inúmeras centelhas acendiam meu corpo num calor insuportável e aquela ardência despudorada que subia e subia, até que explodimos em gozo, risos e lágrimas.

Ele continuou dentro de mim tentando perpetuar aquele momento. Eu nada lhe perguntei...nem ele. Saímos do prédio de mãos dadas. Ele me abraçou forte. Eu beijei-lhe a palma das mãos. Seguimos caminhos opostos, pois o tempo há muito fugira de nós e no meu corpo, impregnado de seu perfume, ficou a sua  última lembrança.






Um comentário:

  1. Jorge Macedo comentou: Além de grande poetisa é uma excelente cronista. "NAS ENTRANHAS" tem um texto instigante e que nos transporta ao ponto de pensarmos estar fazendo parte da trama. Parabéns a Núbia Nonato e ao BLOG DO LANDO!

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