quarta-feira, 4 de setembro de 2013

UM QUÊ DE JÂNIO

Lula, como se sabe, já se comparou a Getúlio e a Juscelino. Tempos atrás, declarou-se um homem sem pecados, quase santo. Lula, no entanto, até onde sei, nunca admitiu seu lado Jânio Quadros. E ele o tem. Não me refiro aos arroubos verbais e à vermelhidão no rosto – marcas presentes em muitas de suas aparições públicas. Ignoro se Lula tem ou se Jânio teve problemas com o sol. Quanto ao linguajar, ambos sempre trataram de maltratar a “inculta e bela”. Jânio abusava do Português castiço; Lula adota o que se poderia chamar de Português mestiço.

Jânio fez enorme sucesso com seus bilhetinhos. Nunca o Diário Oficial - da União, Estado e Município - foi tão disputado nas redações como nos tempos em que ele ocupou os cargos de presidente da República, governador de Estado e prefeito. Lula, que já admitiu publicamente ser avesso à leitura, tem a prudência de não escrever bilhetes. O único deles que vazou para a imprensa, durante uma cerimônia da qual ele participava, era de uma ruindade raramente vista. O “estilo” de quem não lê nada é sofrível. Não há escapatória.

Vamos ao que importa: Lula e Jânio nunca nutriram grande respeito pelo Legislativo.

Prefeito de São Paulo pela segunda vez (1986/1988), Jânio governava na base do decurso de prazo - uma estrovenga herdada do período militar, que lhe permitia aprovar toda e qualquer matéria de seu interesse sem o aval da Câmara de Vereadores. Para tanto, bastava que os seus aliados saíssem do plenário, por dez sessões consecutivas. Assim, as sessões eram derrubadas por falta de quórum. E o que faziam os aliados de Jânio? Faziam exatamente o que o chefe lhes ordenava - desde que, em troca, ganhassem alguns “mimos”.

No exercício do segundo mandato, Lula continua fazendo o que fazia no primeiro: edita uma medida provisória atrás da outra, trava a pauta do Congresso e impede que outras matérias sejam discutidas e votadas. Quando lhe interessa, baixa uma medida provisória para revogar outra. O que deixa claro que, na esmagadora maioria dos casos, as medidas provisórias não se revestem de qualquer urgência e relevância. E o que fazem os aliados de Lula? Fazem o que o chefe lhes ordena – desde que, em troca, ganhem alguns “mimos”.

Os tempos mudaram. Washington Luís acreditava que governar era abrir estradas. Coisa que Lula não faz, embora conte com um imposto específico para este fim - a tal da CIDE. Lula gosta é de remendar estradas, em tempo de chuva brava e sem licitações. Mas essa é outra história, igualmente cabeluda. O fato é que, de uns tempos para cá, parece ser impossível “governar” sem distribuir “mimos”.

Bons tempos aqueles em que os governantes cuidavam ao menos das estradas, e senadores, deputados e vereadores não se preocupavam tanto com os “mimos”. Que a minoria também pague pela maioria “mimada” são os ossos do ofício.





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