sexta-feira, 29 de junho de 2018

HORA DA VITROLA: ELIS (MAIORES SUCESSOS (ÁGUAS E DE MARÇO E ALÔ, ALÔ, MARCIANO)

alemdaimaginacao.com


Em 2015, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) divulgou os resultados de uma pesquisa feita junto a emissoras de rádio e casas de festas, para saber quais as músicas interpretadas por Elis Regina que foram mais tocadas entre os anos de 2010 e 2014. Veja a lista:

COMO NOSSOS PAIS – BELCHIOR
O BÊBADO E A EQUILIBRISTA – JOÃO BOSCO/ALDIR BLANC
ÁGUAS DE MARÇO – TOM JOBIM
ALÔ, ALÔ, MARCIANO – RITA LEE/ROBERTO CARVALHO
CASA NO CAMPO – ZÉ RODRIX/TAVITO
FALSO BRILHANTE – VERSÃO ARMANDO LOUZADA
MADALENA – IVAN LINS/RONALDO MONTEIRO DE SOUZA
APRENDENDO A JOGAR – GUILHERME ARANTES
TIRO AO ÁLVARO – ADONIRAN BARBOSA/OSWALDO MOLLES
ROMARIA – RENATO TEIXEIRA

Hoje, vamos de dois grandes sucessos:
"Águas de Março" e "Alô, Alô, Marciano"




(3º LUGAR)

ÁGUAS DE MARÇO
DE TOM JOBIM



É pau, é pedra
É o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinho
É um caco de vidro
É a vida, é o sol
É a noite, é a morte
É o laço, é o anzol
É peroba do campo
Nó da madeira
Caingá, candeia
É o matita-perê
É madeira de vento
Tombo da ribanceira
É o mistério profundo
É o queira não queira
É o vento ventando
É o fim da ladeira
É a viga, é o vão
Festa da cumeeira
É a chuva chovendo
É conversa, é ribeira das águas de março
É o fim da canseira,
É o pé, é o chão
É a mancha estradeira
Passarinho na mão
Pedra de atiradeira
Uma ave no céu
Uma ave no chão
É um regato, é uma fonte
É um pedaço de pão
É o fundo do poço
É o fim do caminho
No rosto, o desgosto
É um pouco sozinho
É o estrepe, é emprego
É uma ponta é um ponto
É um pingo pingando
É uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto
É uma prata brilhando
É a luz da manhã
É o tijolo chegando
É alinha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana
Estilhaços na estrada
É o projeto da casa
É o corpo na cama
É o carro enguiçado
É a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte
É um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março
Fechando o verão
É a promessa de vida do teu coração
É pau, é pedra
É o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinha
É uma cobra, é um pau
É João, é José
É o espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março
Fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte
É um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março
Fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinho


(4º LUGAR)

ALÔ, ALÔ, MARCIANO
DE RITA LEE E ROBERTO CARVALHO




Alô, alô, marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano tá na maior fissura porque
Tá cada vez mais down the high society

Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down

Alô, alô, marciano
A crise tá virando zona
Cada um por si todo mundo na lona
E lá se foi a mordomia
Tem muito rei aí pedindo alforria porque
Tá cada vez mais down the high society

Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down

Alô, alô, marciano
A coisa tá ficando ruça
Muita patrulha, muita bagunça
O muro começou a pichar
Tem sempre um aiatolá pra atola, Alá
Tá cada vez mais down the high society

Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down

Alô, alô, marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano tá na maior fissura porque
Tá cada vez mais down the high society

Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society

Ui, gente fina é outra coisa, entende?
Down, down, down
High society
Down, down, down, down, down
High society

Hoje não se fazem mais countries como antigamente, não é?
High society, high society, high society, high society
Down, down, down
High society
Down, down, down, down down
High society

Ai que chique é o jazz, meu Deus
Down, down, down
High society
Down, down, down
Ah, Deus

***





Quem ouve Elis cantar, ainda que só pelas gravações que ela deixou, não tem como manter-se em desacordo com os que a consideram a melhor intérprete da Música Popular Brasileira. É como duvidar que Pelé seja o grande craque da bola, algo completamente fora de cogitação. Elis reuniu – e desenvolveu – todas as qualidades que fazem uma cantora marcar época. Senhora da técnica e dona de uma emoção irrefreável, exalava boa música por todos os poros. Com timbre vocal agradabilíssimo e afinação a toda prova, encarou de tudo. Não que fosse eclética, ainda que tenha aberto também esse flanco. Cantou samba, bolero, calipso, Bossa Nova, rock. Em cada gênero, firmava novas possibilidades de vocalização. E tinha uma força descomunal no palco. Ao vivo, arrebatava o público como uma Maria Callas. Costumava dizer que havia se apaixonado pelo som da própria voz. Ela e o Brasil, que não a deixaria marcar apenas a época em que vivera.

Elis continua sendo a maior referência para quem segue o ofício de cantar MPB, em um raro caso de reverência mítica – como Paganini para o violino ou Jimi Hendrix para a guitarra elétrica.

Essa devoção é alimentada não só pelos fãs da cantora, que são muitos, mas principalmente pelos compositores que ela gravou. Milton Nascimento afirma dedicar a Elis as canções que fez. Todas. Antenada aos talentos que emergiam enquanto a música popular era sacudida por festivais, protestos, Jovem Guarda, tropicália, Clube da Esquina e uma nova escola nordestina, Elis apostou em desconhecidos e fez com que se consagrassem nacionalmente. Venceu um festival cantando Edu Lobo (“Arrastão”), gravou o tropicalista Gilberto Gil, chamou a atenção para o mineiro Milton e sua turma de Belo Horizonte, lançou o cearense Belchior e imortalizou “Romaria” do paulista Renato Teixeira.

Enquanto estimulava jovens carreiras, jamais deu as costas para a tradição. Cantava Ataulfo Alves, João do Vale, Dorival Caymmi e Adoniran Barbosa. Cantou “Águas de Março” em dueto com Tom Jobim. Cantou o que era bom. E se não fosse, ficava.

Celso Masson
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira



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