Foto: Arquivo Google |
Em pouco tempo, Paulinho, perdão doutor
Paulo Gonzalez, enricou. Aprovado num concurso público promovido pela
Prefeitura, ele se mudou para uma cidade de porte médio. Meses depois, montou o
próprio consultório. Logo em seguida, também passou num concurso público do
governo do Estado, para trabalhar no mesmo município. Só os profissionais que
atuam na área da Saúde e Educação, como se sabe, podem ter simultaneamente dois
empregos públicos. No começo, Paulinho, como o chamam familiares e amigos de
adolescência, ralou uma barbaridade. Não tinha tempo para nada. Sua vida era só
trabalhar, trabalhar, trabalhar.
Com o passar dos meses, Paulinho resolveu
dar ouvidos aos colegas mais experientes. Cansado de dar murros em ponta de
faca, passou a marcar o ponto de entrada e o de saída nos dois empregos
públicos. Nesse meio tempo, ia cuidar da vida. Pedia às secretárias para
que concentrassem as consultas em um ou dois dias da semana, no máximo. Passava boa parte do tempo em seu consultório
particular. Em caso de emergência, lhe avisavam pelo WhatsApp – e ele ia de
moto, zunindo, para seu posto de trabalho. Que o paciente esperasse um pouco. Ora,
ninguém morre de véspera.
Mas o consultório, por mais que Paulinho ali
permanecesse, por mais que distribuísse cartões e fizesse propaganda nos
jornais locais, cambaleava. Clientela miúda. As consultas, raras, mal davam
para pagar as despesas. Novamente, o doutor deu ouvidos aos colegas mais
experientes. Deixou de lado a veleidade de ser um grande médico, sonho da
família e dele próprio, e passou a vender atestados. Hoje, dá gosto de ver
aquela movimentação. Um entra e sai de gente que não cessa, de segunda a sexta.
A demanda é tanta que Paulinho resolveu dar um passo além. Deixa uma série de
atestados já carimbados e assinados. Um funcionário de sua confiança, vestido
de branco, encarrega-se de receber o dinheiro em troca do papelucho carimbado e
assinado por Paulinho, perdão, por doutor Paulo Gonzalez.
Orlando
Silveira
Junho de 2018
***
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