sábado, 30 de junho de 2018

HORA DA VITROLA: LUCY ALVES (FREVO MULHER)

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Foto: Inácio Moraes/Gshow

FREVO MULHER

De Zé Ramalho
Com Lucy Alves



Quantos aqui ouvem
Os olhos eram de fé
Quantos elementos
Amam aquela mulher

Quantos homens eram inverno
Outros verão
Outonos caindo secos
No solo da minha mão

Gemeram entre cabeças
A ponta do esporão
A folha do não-me-toque
E o medo da solidão

Veneno meu companheiro
Desata no cantador
E desemboca no primeiro
Açude do meu amor

É quando o tempo sacode
A cabeleira
A trança toda vermelha
Um olho cego vagueia
Procurando por um

Quantos aqui ouvem
Os olhos eram de fé
Quantos elementos
Amam aquela mulher

Quantos homens eram inverno
Outros verão
Outonos caindo secos
No solo da minha mão

Gemeram entre cabeças
A ponta do esporão
A folha do não-me-toque
E o medo da solidão

Veneno meu companheiro
Desata no cantador
E desemboca no primeiro
Açude do meu amor

É quando o vento sacode
A cabeleira
A trança toda vermelha
Um olho cego vagueia
Procurando por um

CHÁ DAS CINCO: ÁLVARES DE AZEVEDO

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Imagem: arquivo Google

SE EU MORRESSE AMANHÃ

Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! Que céu azul! Que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã…
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!

(Álvares Azevedo) 


IMAGENS: IMPRESSIONISMO - DEGAS


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Edgar Hilaire Germain de Gas, popularmente conhecido apenas por Edgar Degas, foi um importante pintor, escultor e gravurista francês. Nasceu em 19 de julho de 1834 em Paris e faleceu, na mesma cidade, em 27 de setembro de 1917. Fez parte do movimento artístico conhecido como impressionismo, embora suas obras possuíssem fortes elementos do Realismo e do Renascimento italiano. Suas obras, sobretudo as da última fase, apresentam elementos do Modernismo.

Principais características do estilo artístico de Degas:

- Uso de cores em tom pastel e suaves na primeira fase de sua vida artística. Na década de 1860, passou a utilizar tons mais vibrantes.

 - Abordagem de cenas do cotidiano, paisagens e retratos individuais.

- Pintura de bailarinas, mulheres, concertos e óperas.

- Pintura histórica, sobretudo a partir da década de 1860.

FONTE (TEXTO): SUAPESQUISA.COM



A ÉTICA DO CRUZ-CREDO: O VENDEDOR DE ATESTADOS

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Foto: Arquivo Google
Em pouco tempo, Paulinho, perdão doutor Paulo Gonzalez, enricou. Aprovado num concurso público promovido pela Prefeitura, ele se mudou para uma cidade de porte médio. Meses depois, montou o próprio consultório. Logo em seguida, também passou num concurso público do governo do Estado, para trabalhar no mesmo município. Só os profissionais que atuam na área da Saúde e Educação, como se sabe, podem ter simultaneamente dois empregos públicos. No começo, Paulinho, como o chamam familiares e amigos de adolescência, ralou uma barbaridade. Não tinha tempo para nada. Sua vida era só trabalhar, trabalhar, trabalhar.

Com o passar dos meses, Paulinho resolveu dar ouvidos aos colegas mais experientes. Cansado de dar murros em ponta de faca, passou a marcar o ponto de entrada e o de saída nos dois empregos públicos. Nesse meio tempo, ia cuidar da vida. Pedia às secretárias para que concentrassem as consultas em um ou dois dias da semana, no máximo.  Passava boa parte do tempo em seu consultório particular. Em caso de emergência, lhe avisavam pelo WhatsApp – e ele ia de moto, zunindo, para seu posto de trabalho. Que o paciente esperasse um pouco. Ora, ninguém morre de véspera.

Mas o consultório, por mais que Paulinho ali permanecesse, por mais que distribuísse cartões e fizesse propaganda nos jornais locais, cambaleava. Clientela miúda. As consultas, raras, mal davam para pagar as despesas. Novamente, o doutor deu ouvidos aos colegas mais experientes. Deixou de lado a veleidade de ser um grande médico, sonho da família e dele próprio, e passou a vender atestados. Hoje, dá gosto de ver aquela movimentação. Um entra e sai de gente que não cessa, de segunda a sexta. A demanda é tanta que Paulinho resolveu dar um passo além. Deixa uma série de atestados já carimbados e assinados. Um funcionário de sua confiança, vestido de branco, encarrega-se de receber o dinheiro em troca do papelucho carimbado e assinado por Paulinho, perdão, por doutor Paulo Gonzalez.

Orlando Silveira
Junho de 2018

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LEIA TAMBÉM: A MERENDEIRA

Motoristas de ônibus podem fazer greve que ela não está nem aí. Vai a pé. E nunca volta de mão abanando. Por Orlando Silveira
https://orlandosilveira1956.blogspot.com/2018/06/a-etica-do-cruz-credo-merendeira.html#comment-form

FOTOGRAFIAS: DAVID LAZAR (2)




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David Lazar é fotógrafo de viagens desde 2004, ano em que passou três meses na Tailândia, Índia e Nepal. Ele continuou viajando freqüentemente para países do Sul da Ásia, África e partes da América Central e do Sul. Quando não está viajando e fotografando, David, que possui um Master of Music em composição de filmes, trabalha como compositor, professor e intérprete de piano.

Em 2014, foi premiado como Melhor Fotógrafo de Cultura pela Garuda Airways. Foi o vencedor, em 2012, da Smithsonian Photography Contest na categoria de viagens. Em 2015, o inspirador livro 'Who Will I Become' foi lançado pela Growing Leaders Foundation, mostrando a fotografia de David de Trinidad e Tobago. Ele publicou recentemente um livro de mesa de café de seu trabalho de Mianmar intitulado "Myanmar A Luminous Journey", que agora está disponível para compra em todo o mundo.


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sexta-feira, 29 de junho de 2018

HORA DA VITROLA: ELIS (MAIORES SUCESSOS (ÁGUAS E DE MARÇO E ALÔ, ALÔ, MARCIANO)

alemdaimaginacao.com


Em 2015, o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD) divulgou os resultados de uma pesquisa feita junto a emissoras de rádio e casas de festas, para saber quais as músicas interpretadas por Elis Regina que foram mais tocadas entre os anos de 2010 e 2014. Veja a lista:

COMO NOSSOS PAIS – BELCHIOR
O BÊBADO E A EQUILIBRISTA – JOÃO BOSCO/ALDIR BLANC
ÁGUAS DE MARÇO – TOM JOBIM
ALÔ, ALÔ, MARCIANO – RITA LEE/ROBERTO CARVALHO
CASA NO CAMPO – ZÉ RODRIX/TAVITO
FALSO BRILHANTE – VERSÃO ARMANDO LOUZADA
MADALENA – IVAN LINS/RONALDO MONTEIRO DE SOUZA
APRENDENDO A JOGAR – GUILHERME ARANTES
TIRO AO ÁLVARO – ADONIRAN BARBOSA/OSWALDO MOLLES
ROMARIA – RENATO TEIXEIRA

Hoje, vamos de dois grandes sucessos:
"Águas de Março" e "Alô, Alô, Marciano"




(3º LUGAR)

ÁGUAS DE MARÇO
DE TOM JOBIM



É pau, é pedra
É o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinho
É um caco de vidro
É a vida, é o sol
É a noite, é a morte
É o laço, é o anzol
É peroba do campo
Nó da madeira
Caingá, candeia
É o matita-perê
É madeira de vento
Tombo da ribanceira
É o mistério profundo
É o queira não queira
É o vento ventando
É o fim da ladeira
É a viga, é o vão
Festa da cumeeira
É a chuva chovendo
É conversa, é ribeira das águas de março
É o fim da canseira,
É o pé, é o chão
É a mancha estradeira
Passarinho na mão
Pedra de atiradeira
Uma ave no céu
Uma ave no chão
É um regato, é uma fonte
É um pedaço de pão
É o fundo do poço
É o fim do caminho
No rosto, o desgosto
É um pouco sozinho
É o estrepe, é emprego
É uma ponta é um ponto
É um pingo pingando
É uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto
É uma prata brilhando
É a luz da manhã
É o tijolo chegando
É alinha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana
Estilhaços na estrada
É o projeto da casa
É o corpo na cama
É o carro enguiçado
É a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte
É um sapo, é uma rã
É um resto de mato na luz da manhã
São as águas de março
Fechando o verão
É a promessa de vida do teu coração
É pau, é pedra
É o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinha
É uma cobra, é um pau
É João, é José
É o espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março
Fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte
É um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março
Fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco
É um pouco sozinho


(4º LUGAR)

ALÔ, ALÔ, MARCIANO
DE RITA LEE E ROBERTO CARVALHO




Alô, alô, marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano tá na maior fissura porque
Tá cada vez mais down the high society

Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down

Alô, alô, marciano
A crise tá virando zona
Cada um por si todo mundo na lona
E lá se foi a mordomia
Tem muito rei aí pedindo alforria porque
Tá cada vez mais down the high society

Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down

Alô, alô, marciano
A coisa tá ficando ruça
Muita patrulha, muita bagunça
O muro começou a pichar
Tem sempre um aiatolá pra atola, Alá
Tá cada vez mais down the high society

Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society
Down, down, down

Alô, alô, marciano
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar estamos em guerra
Você não imagina a loucura
O ser humano tá na maior fissura porque
Tá cada vez mais down the high society

Down, down, down
The high society
Down, down, down
The high society

Ui, gente fina é outra coisa, entende?
Down, down, down
High society
Down, down, down, down, down
High society

Hoje não se fazem mais countries como antigamente, não é?
High society, high society, high society, high society
Down, down, down
High society
Down, down, down, down down
High society

Ai que chique é o jazz, meu Deus
Down, down, down
High society
Down, down, down
Ah, Deus

***





Quem ouve Elis cantar, ainda que só pelas gravações que ela deixou, não tem como manter-se em desacordo com os que a consideram a melhor intérprete da Música Popular Brasileira. É como duvidar que Pelé seja o grande craque da bola, algo completamente fora de cogitação. Elis reuniu – e desenvolveu – todas as qualidades que fazem uma cantora marcar época. Senhora da técnica e dona de uma emoção irrefreável, exalava boa música por todos os poros. Com timbre vocal agradabilíssimo e afinação a toda prova, encarou de tudo. Não que fosse eclética, ainda que tenha aberto também esse flanco. Cantou samba, bolero, calipso, Bossa Nova, rock. Em cada gênero, firmava novas possibilidades de vocalização. E tinha uma força descomunal no palco. Ao vivo, arrebatava o público como uma Maria Callas. Costumava dizer que havia se apaixonado pelo som da própria voz. Ela e o Brasil, que não a deixaria marcar apenas a época em que vivera.

Elis continua sendo a maior referência para quem segue o ofício de cantar MPB, em um raro caso de reverência mítica – como Paganini para o violino ou Jimi Hendrix para a guitarra elétrica.

Essa devoção é alimentada não só pelos fãs da cantora, que são muitos, mas principalmente pelos compositores que ela gravou. Milton Nascimento afirma dedicar a Elis as canções que fez. Todas. Antenada aos talentos que emergiam enquanto a música popular era sacudida por festivais, protestos, Jovem Guarda, tropicália, Clube da Esquina e uma nova escola nordestina, Elis apostou em desconhecidos e fez com que se consagrassem nacionalmente. Venceu um festival cantando Edu Lobo (“Arrastão”), gravou o tropicalista Gilberto Gil, chamou a atenção para o mineiro Milton e sua turma de Belo Horizonte, lançou o cearense Belchior e imortalizou “Romaria” do paulista Renato Teixeira.

Enquanto estimulava jovens carreiras, jamais deu as costas para a tradição. Cantava Ataulfo Alves, João do Vale, Dorival Caymmi e Adoniran Barbosa. Cantou “Águas de Março” em dueto com Tom Jobim. Cantou o que era bom. E se não fosse, ficava.

Celso Masson
Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira