PAIS SACANAS
Durante
alguns poucos anos (até os sete, talvez) , ouvia da mãe e do pai que se fizesse
(ou não fizesse, dependendo do caso) isso ou aquilo, Papai Noel não “viria”. Ou
seja: o velhote barbudo e suas renas iriam me largar na mão, sem presente
algum, em pleno Natal. Pura chantagem.
O jeito era
tomar a benção da madrinha e do padrinho, evitar palavrões, suportar sem pio a
injeção no traseiro. Não foram poucas vezes em que pai e mãe me incentivaram a
escrever cartas para o “amigão” das crianças. Fazia meus pedidos e recebia algo
completamente diferente do que desejava. Eu lhe pedia um triciclo e recebia uma
peteca. Eu lhe rogava um autorama e lá vinha uma bola de plástico.
Pai e mãe
vinham sempre com a mesma conversa mole: “Papai Noel está pobre, este ano”. Até
aí, tudo bem. Estava acostumado com a vida dura. O que não conseguia entender
era por que o vizinho sempre recebia presentes melhores que os meus. Que
diabos! Este velho só pode estar de sacanagem comigo. Todo ano a mesma
ladainha? Que seletividade é esta? Fui tomando uma ojeriza pelo velho que só eu
sei. Só não rompi as relações porque, afinal, uma peteca é melhor que nada.
Certo dia,
aflitos com meu inconformismo, mãe e pai abriram o jogo: “Papai Noel não
existe, filho”. Recebi a “bomba” com alívio. Minha ira mudou de foco. Até hoje
não consigo compreender as razões que levam pais a fazer o filho acreditar numa
“mentira” e a sentir bronca da “mentira”, para depois dizer a ele que a “mentira”
nunca existiu.
Vão puxar
trenós. (OS)
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