terça-feira, 15 de dezembro de 2015

QUASE HISTÓRIAS


MISSA DO GALO

Dezembro é o mês mais chato de todos os meses, com o perdão de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, a exemplo deste escriba, nasceu no décimo segundo mês do ano. Mamãe costumava dizer que o fato de termos – Ele e eu – nascido no mesmo mês não é obra do acaso. Mãe é mãe. Adiante.

Dezembro deveria ser mês de reflexão, carinho, solidariedade, amor cristão. Não é. Não é mesmo. É o mês do assalto à mão desarmada. É o mês do achaque. Você não tem para onde fugir. Bote reparo. Tudo sobe de preço, até o gengibre. Muito embora ninguém tome quentão em dezembro.

Se você mora em casa, está ferrado. Os caras que medem a luz, o gás e a água não lhe dão um segundo de paz. Querem porque querem uma caixinha. O sujeito dos Correios, embora só lhe traga más notícias ao longo de uma vida, empina o nariz e exige o seu. Garis vêm em bandos, uma turma por dia. Nem se dão ao luxo de revezar com aqueles que, uma vez por ano, batem enxada na calçada para eliminar o mato malsão. Mato que só voltará a ser cortado em dezembro vindouro – se, claro, houver caixinha.

Se você mora em apartamento, vai se ferrar do mesmo jeito. Faxineiros, porteiros, zelador... Mal cumpriram sua obrigação, têm salário em dia, férias e tudo o mais (se é pouco, não temos culpa), mas... Sem caixinha – uma forma de propina light –, este país vagabundo não anda. Ninguém sabe o dia de amanhã. O portão da garagem pode cair sem querer querendo em cima de seu carro. Acidentes acontecem.

Não importa onde você mora. Na padaria, no açougue, na barbearia, há e haverá sempre uma caixinha pedindo caixinha. Não é tudo. Você pagará o dobro, na melhor das hipóteses, por um cacho de uvas, uma fatia de panetone, um naco de pernil estorricado. O décimo terceiro cobre 10% da lambança. Se tanto. O desfalque financeiro é certo.


E eu que só queria tomar “uma” depois da Missa do Galo...(OS)

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