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Cumprira
rigorosamente o ritual: dera banho no pai, enxugara o pai, colocara a roupa no
pai, passara creme hidratante nas pernas do pai e pomada nos ferimentos (o pai
caía muito), dera os comprimidos para “administrar” o Parkinson, pingara os
colírios etc. Só faltava colocar os sapatos. Mas faltava um sapato. Vasculhou a
casa toda. Em vão.
A
empregada chegou, fez o café, mimou o pai e disse ao filho que ficasse
tranquilo, fosse escrever seus textos, cuidar da vida. Na hora da faxina, ela
daria uma geral e encontraria o sapato fujão. Também não encontrou., embora
tenha revirado o apartamento.
No
dia seguinte, o pai pediu ao filho que fosse até a biblioteca, abrisse a gaveta
tal e pegasse alguns reais num envelope pardo para dar à empregada comprar umas
miudezas no mercadinho ao lado. O “fujão” estava lá.
--
Pai, o senhor esteve ontem na biblioteca?
--
Acho que estive. Por quê?
--
Seu sapato estava lá, na gaveta. Quem o colocou ali?
--
Não sei. Eu é que não fui.
(OS – 2014, atualizado em
maio de 2019)
***
LEIA TAMBÉM MEMÓRIAS DO PARKINSON (I)
O pai não queria mais o cobertor, queria mudar de lado, queria ficar sentado, queria tomar água, queria o cobertor de novo e mudar de lado também, queria tirar a fralda, não estava na hora do café, não? Por Orlando Silveira
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E MEMÓRIAS DO PARKINSON (II)
Naquele final de segunda-feira, pai, mãe, filho, filha e nora, todos, enfim, choramos de alegria. Mesmo sabendo que não haveria cura. Por Orlando Silveira
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