Como dia a música: "Vence na vida..." Arte: pt.coolclips.com |
A euforia de Antoninho Lisboa saltava aos
olhos de todos. Cumprimentava quem cruzasse seu caminho, fosse amigo ou não,
fosse conhecido ou não. Mandava beijos para crianças, fazia mesuras para as
senhoras de meia idade para cima. Parecia candidato em campanha. Mas, Lisboa,
como todos o chamavam, não era candidato a nada, exceto a viver a vida. Na
véspera, saíra sua aposentadoria. E que aposentadoria! Vencimento integral,
equivalente ao que recebia na ativa, coisa de cinco vezes o teto de INSS. Ainda
era novo, saúde em perfeitas condições. O que mais alguém pode querer? Ia pelas
ruas cantarolando aquela música de antigas festas de fim de ano, embora
estivéssemos na Quaresma: “Adeus, vida velha; feliz, vida nova. Muito dinheiro
no bolso, saúde pra dar e vender”.
- Meu querido Lisboa, eu vou lhe pedir duas
coisas: (1ª) que você acredite em mim e (2ª) que você se deixe levar pela
engrenagem da Câmara. Enquanto eu estiver no comando, para você, o céu será de
brigadeiro. Mas é fundamental que tenha paciência.
"... quem diz 'sim'" Arte: Depositphotos |
Três meses depois, doutor Quirino o chamou
para uma segunda conversa:
- Meu amigo, a partir da próxima semana,
você irá trabalhar para o vereador Vadão. Ele vai lhe dar um cargo
comissionado. Só que você terá que lhe devolver a diferença.
- Que vantagem eu levo, doutor Quirino?
Perdão, eu não entendi.
- Várias. Você não precisará vir à Câmara às
segundas e sextas. Com sua habilidade, não terá dificuldades para arrumar uns
bicos, a fim de reforçar o orçamento. O mais importante, porém, é que, de
tempos em tempos, parte do seu salário de assessor será incorporada ao seu
salário de origem. E isso ninguém mais lhe tira. Quando você se aposentar, terá
uma baita aposentadoria. E tem mais: vou pedir ao vereador Vadão que lhe dê R$
500 a mais por mês. Ou seja: você começa como peão e termina como marajá. Entendeu?
- Entendi. Como posso lhe agradecer?
- Não se preocupe com isso, querido. Apareça
em meu apartamento aos sábados. Tenho andado muito só, carente mesmo. E não se
esqueça: deixe-se levar pela engrenagem.
E assim foi feito.
(ORLANDO SILVEIRA – ATUALIZADO EM JULHO DE 2019)
Sempre com histórias interessantes e atuais! Parabéns amigo Orlando Silveira!
ResponderExcluirObrigado, Vólia.
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