sábado, 1 de junho de 2019

QUASE HISTÓRIAS: O JIPE DO TIO

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Imagem: Google

- Oi. Tudo bem por aí, pai?

- Tudo. E com vocês?

- Tudo em paz. Dudu está lindo. 

- Daqui de cima, eu o vejo todos os dias. Está lindo mesmo. Como você conseguiu ligar?

- Não importa. A gente sempre dá um jeito.

- Não me faça passar vergonha. O céu é lugar recatado. 

- OK. Estou com saudade. Tem lido?

- Muito. Quer dizer: quando tua mãe me deixa ler... Como fala, a tua mãe! Havia me esquecido desse detalhe.

- Ela está aí?

- Agora, não. Foi com Laura e Valésia, suas tias, fazer pudim para Pedro, o santo.

- Como assim?

- É aniversário dele. Vamos fazer uma festinha surpresa.

- Não sabia que santo faz aniversário.

- Faz. Por que não faria? O que mais, filho?

- Está com pressa?

- Estou. A vida é curta, preciso ler, aprender. Mas pode falar.

- Por aí a vida não é eterna? 

- Depois te explico.

- Soube que tio Iraci está por aí.

- Está. Duro é encontrá-lo. Continua o mesmo. Bate pernas o dia todo. Só aparece para fazer as refeições. Vai ao purgatório, vai ao inferno. Não esquenta cadeira. Uma hora ainda se perde. Não volta para o céu.

-- E tio Antônio?

-- Também está por aqui. Ele sempre lhe manda beijo. Gosta de você. Continua o mesmo. Continua chamando Laura de "pamonha". Com razão. Agora cismou – esse Antônio! Quer fazer piquinique. Mas quem há de trazer o velho jipe para o céu? Quem? Sem jipe não há piquinique...

-- É.

-- Amanhã, a gente se fala. Pedro está chegando, com cara de poucos amigos. Acho que o pudim desandou. Também pudera. Sua mãe e tias não param de falar. 

- Sua benção, pai.

- Deus te abençoe. Não beba muito, largue o cigarro. Beijo. 


OS - JULHO DE 2016 - ATUALIZADO EM FEVEREIRO DE 2018



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