Rio manifestação em homenagem à Marielle Foto: Mídia Ninja |
FATOS
ARRASTAM TEMER
PARA
AGENDA DE DELEGADO
Rodeado
por denúncias criminais e inquéritos por corrupção,
Temer
convive com o risco de ter um futuro à moda de Sérgio Cabral
Por
Josias de Souza
UOL
– 15/03/2018
O
fuzilamento da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes,
aconteceu no centro do Rio de Janeiro. Mas os efeitos dos disparos foram
sentidos no Palácio do Planalto. Michel Temer descobriu da pior maneira
possível o quão arriscado é fazer populismo com segurança pública. Ao decretar
intervenção federal na segurança do Rio, Temer disse que seu governo
prevaleceria sobre a bandidagem. Os criminosos ainda não lhe deram crédito.
Pior: revelam-se dispostos a balançar o coreto de sua autoridade.
A
essa altura, nem as almas mais ingênuas acreditam na lorota de que Temer
devolverá a paz ao Rio até dezembro, quando termina o seu mandato. Primeiro
porque o tempo é curto. Segundo porque falta uma certa autoridade a
Temer. Há duas décadas, um candidato a prefeito chamado Sergio Cabral dizia que
a Rocinha era uma fábrica de marginais. Anos depois, eleito governador pelo
PMDB, partido de Temer, Cabral chegou a anunciar que mandaria murar uma favela.
Hoje, o aliado de Temer está preso dentro dos muros da cadeia paranaense que
guarda os larápios da Lava Jato.
Rodeado
por denúncias criminais e inquéritos por corrupção, Temer convive com o risco
de ter um futuro à moda de Sérgio Cabral. Mas achou que poderia oxigenar o
resto do seu mandato desafiando o crime organizado do Rio. Retirou o governador
Luiz Fernando Pezão da linha de tiro. E atraiu para o gabinete presidencial, em
Brasília, todas as mazelas da insegurança do Rio. Temer sonhou com a
revitalização de sua autoridade de presidente. Mal sabia ele que a realidade o
arrastaria para uma agenda de delegado de polícia.
MARIELLE
PODE SER O PAVIO
QUE
REACENDERÁ AS RUAS
É cedo para dizer se 2018 repetirá 2013. Mas
o fuzilamento da vereadora Marielle Franco e do motorista dela, Anderson Gomes,
retirou um pedaço da opinião pública de casa. Beneficiário do derretimento do
governo de Dima Rousseff, Michel Temer sentiu o hálito quente do asfalto no
início da noite desta quinta-feira. Nas palavras de um auxiliar do presidente,
“é hora de encostar o ouvido no asfalto para escutar o que ele tem a dizer.”
Temer e seus operadores políticos assustaram-se
com a quantidade de pessoas que foram às ruas por Marielle. Supreenderam-se
também com o tamanho da repercussão internacional do episódio. O que pode
acontecer?, perguntou o repórter ao colaborador do presidente. E ele: “Difícil
prever o desfecho de algo que está em andamento. A única coisa que nos
interessa no momento é a investigação. Nossa obrigação é apresentar rapidamente
os culpados e providenciar a punição.”
Quando as ruas roncaram sob Dilma, a então
presidente anunciou com espalhafato uma proposta de “cinco pactos”.
Esfumaçaram-se no ar. Ela também esgrimiu um projeto de constituinte exclusiva.
Não conseguiu explicar para quê. Empinou a ideia de uma reforma política
moldada por um plebiscito. Tanta empulhação aumentou o caldo em que foi fervido
o mandato de Dilma.
Embora o Planalto não se arrisque a prever
até onde vai o barulho provocado pela execução de Marielle, há um detalhe do
qual ninguém discorda. Dê no que der, Temer não conseguirá ficar alheio às
consequências. O presidente saltou dentro do caldeirão há um mês, quando
decretou a intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro.
Na manhã desta quinta-feira, quando as ruas
ainda não soluçavam, Temer afirmou: ''Não destruirão o nosso futuro; nós
destruiremos o banditismo antes”. Até aqui, a principal arma do governo foi a
marquetagem. Ao reiterar a promessa de que a intervenção federal restabelecerá
a paz no Rio, Temer vende uma ficção que cutuca a paciência do meio-fio. (JS)
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