Marun: sem medo de ser ridículo Foto:Sérgio Lima |
O
IMPEACHMENT DE BARROSO
Mais
que indecoroso, ameaçar o ministro
com
o impeachment é irresponsabilidade
própria
de quem é dado a bravatas
Por
Carlos Melo
Blog
do Carlos Melo
13/03/2018
– 23h56
Quando é o caso de soltar a língua, Carlos
Marun é o gatilho mais rápido que há no deserto do governo Temer. Volta e meia,
ganha holofotes não por elaborações políticas, conquistas no Congresso ou por
uma visão de futuro, mas em virtude da contundência destemperada e de exageros
recorrentes a que é dado. Tapeado pelo poder e habilidade que não possui,
torna-se especialista em bravatas, desconhecendo que o ridículo é um lugar sem
volta.
De fato, nestes tempos em que a natureza
parece estéril, Marun é uma força da natureza política nacional. Em primeiro mandato,
tornou-se ministro responsável pela articulação, talvez pelo estilo pouco
polido e pela desfaçatez sarcástica que expressava na Câmara e diante das
câmeras de TV. É a cara da base de Michel Temer, o perfil acabado do Centrão.
Trombador, pau-de-toda-obra, espicaça adversários esquecendo-se da elegância e
da permanente necessidade de diálogo.
Foram tantas as suas… Flagrado no Plenário
cantando e dançando em comemoração à votação que salvou o presidente na
denúncia por formação de quadrilha, levou uma espinafrada homérica, do autor da
canção, Benito di Paula. Depois, declarações de que bancos públicos liberariam
recursos em favor da reforma da Previdência, revoltaram governadores e
funcionários públicos.
Mais tarde, afirmou que o diretor-geral da PF
''tem o dever de observar inquéritos de grande repercussão'', o que indicava a
manobra para arquivar os processos contra Michel Temer. E, agora, ameaça
retomar seu mandato no Congresso especialmente para pedir o impeachment de Luís
Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Como se sabe Barroso mandou quebrar o sigilo
bancário do presidente da República, assim como anulou os efeitos mais
escandalosos do indulto presidencial que livraria a cara de corruptos pegos
pela Operação Lava Jato. O magistrado tem-se notabilizado como pedra no sapato
de Michel Temer, dos suspeitos protegidos pelo foro privilegiado e dos
corruptos em geral, tornando-se um obstáculo na direção do forno onde o governo
pretendia assar a grande pizza política nacional. É arrimo da resistência.
Mais que indecoroso, ameaçar ao ministro com
o impeachment é irresponsabilidade própria de quem é dado a bravatas.
Possivelmente, revela um sentimento e um desejo que não é só seu. Mas,
demonstra também desconhecer os aspectos mais básicos de qualquer disputa de
poder — indispensável a políticos em geral —, que é saber da própria força e da
força do inimigo.
Carlos Melo é cientista político e professor do Insper Foto: Fiesp |
Ignorando a opinião pública a respeito do
presidente da República e de boa parte de seus ministros, apresenta-se como um
tipo de ''Napoleão de Hospício'', de estatura avantajada.
Como a maior parte do governo, Carlos Marun
parece sofrer a síndrome de gabinete, aquela ensimesma o sujeito, o afasta da
realidade e compromete seu discernimento. Por osmose, engana-se cercado que
está por seus iguais. Tem má avaliação da realidade, ''como o sujeito que vai à
Rua Javari e passa a acreditar que a torcida do Juventus é maior que a do
Flamengo'' — fica o crédito da frase a Renato Meirelles. É natural do poder
encastelado e distante das ruas; natural de governantes cercados de aduladores.
Natural dos últimos governos.
Enquanto a reforma da Previdência passa ao
largo do Congresso, objetivo e razão para que o deputado fosse deslocado ao
Executivo, Marun passa para o folclore político nacional. Desvela-se neste novo
Febeapá — festival de besteiras que [torna a] assola[r] o país. Ficará marcado
na história. É para poucos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário