Anderson: "apenas" um número Foto: YouTube |
NA
VIDA E NA MORTE,
A
MAIORIA DOS POLÍTICOS
SÓ
SE SOLIDARIZA COM SEUS PARES
Anderson
é um coadjuvante na morte da vereadora
e
está prestes a sumir na estatística que mantém o Brasil
na
liderança mundial em número absoluto de homicídios
Por
Felipe Moura Brasil
Jornal
da Manhã/Jovem Pan
16/03/2018
Era uma vez Anderson Pedro Gomes, filho de
torneiro mecânico com dona de casa.
Tinha 39 anos e dois filhos, um deles nascido
com má formação. Trabalhou em bar e hotéis, fez curso de mecânico, arrumou
apenas estágios, não empregos na área, e virou motorista.
Na noite de quarta-feira, substituindo um
amigo de licença médica, Anderson dirigia um Chevrolet Agile branco, de vidros
escurecidos, na rua Joaquim Palhares, no Estácio, zona norte do Rio de Janeiro,
quando foi atingido por quatro tiros de armas calibre 9 milímetros e morreu.
Sua mulher, a funcionária pública Agatha
Reis, assistente-executiva na área de educação do governo do Rio, disse que
Anderson era um pai muito amoroso e um marido maravilhoso que estava fazendo
bico pra tentar sustentar a família.
O casal morava num bairro de classe média
baixa da zona norte.
Anderson seria apenas mais uma vítima dos 61
mil assassinatos por ano no Brasil, dos quais menos de 8% são solucionados, não
fosse um pequeno detalhe: quando foi morto, ele conduzia a vereadora do PSOL
Marielle Franco, de 38 anos, morta com três tiros.
O presidente Michel Temer lamentou no Twitter
esse ato de extrema covardia contra Marielle e solidarizou-se com parentes e
amigos. Somente horas depois citou Anderson.
O ministro da Segurança Pública, Raul
Jungmann, em entrevista coletiva, mandou recado aos amigos e familiares de
Marielle de que as forças de segurança vão encontrar os responsáveis e puni-los
por esse crime bárbaro. Anderson foi novamente esquecido.
Em seus discursos na tribuna da Câmara,
petistas e demais esquerdistas que exploraram politicamente o cadáver e que
sempre defenderam a leniência da lei penal brasileira com criminosos,
tratando-os como vítimas da sociedade, abstraíram o motorista.
Anderson é um coadjuvante na morte da
vereadora e está prestes a sumir na estatística que mantém o Brasil na
liderança mundial em número absoluto de homicídios.
Como disse sua mulher: “A revolta é claro que
eu sinto, mas a gente acaba se acostumando. No final das contas, é mais um. É
uma frase clichê, mas é isso.”
É isso, Agatha. Na vida e na morte, a maioria
dos políticos e das militâncias partidárias só se solidariza com seus pares.
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