E AGORA, JOSÉ? |
PSDB JÁ NÃO É O QUE FOI
E NÃO SABE O QUE SERÁ
Agora, o tucanato se esforça para medir não a qualificação
dos seus pássaros, mas a quantidade de lama
que cada um traz sobre a plumagem
Por Josias de Souza
UOL – 02/04/2017| 05:15
O PSDB vive uma crise de identidade. Tornou-se o pior tipo de ético
— o tipo que não consegue enxergar a ética no espelho. Houve tempo em que o
partido se vangloriava até de sua divisão interna. Cada arranca-rabo para a
escolha de uma candidatura tucana era tratado como um marco civilizatório na
vida política nacional. Dizia-se que uma disputa entre Aécio Neves, Geraldo
Alckmin e José Serra só trazia vantagens, pois nenhuma outra legenda podia
levar à vitrine contendores tão qualificados. Agora, o tucanato se esforça para
medir não a qualificação dos seus pássaros, mas a quantidade de lama que cada
um traz sobre a plumagem.
Até ontem, o PSDB apresentava-se como campeão da moralidade. E se
atribuía o direito de denunciar os adversários como salteadores. Apanhados com
a asa nas arcas da Odebrecht, os tucanos protegem-se alegando que caixa dois
não é corrupção. Suprema ironia: na crise do mensalão, o tucanato achou que
poderia sangrar Lula e varrer para baixo de sua hipocrisia a aliança do seu
presidente, Eduardo Azeredo, com Marcos Valério. Na era do petrolão, o ninho
acha natural ecoar o lero-lero da verba “não-contabilizada” do tesoureiro
petista Delúbio Soares. Mandou a credibilidade para o beleléu.
Nas pegadas da derrota apertada de Aécio Neves em 2014, o PSDB foi
ao Tribunal Superior Eleitoral. Acusou a coligação adversária de prevalecer na
base do abuso do poder político e, sobretudo, econômico. Pedia, então, a
cassação da chapa Dilma — Temer e a posse da chapa Aécio — Aloysio Nunes,
segunda colocada. O tempo passou. Sobreveio o impeachment. Tucanos viraram
ministros. E o PSDB pede ao TSE que condene Dilma à inelegibilidade, mas livre
Temer da guilhotina. Sustenta que o dinheiro sujo que bancou a continuidade de
madame não contaminou a reeleição do seu substituto constitucional. O tucanato
perdeu o nexo.
Sem ética, sem credibilidade e sem nexo, o PSDB já não é o que foi —
ou imaginava ser. E ainda não sabe o que será. Deve doer em Aécio, Alckmin e
Serra a ideia de encenar o papel de políticos que fazem pose de limpinhos numa
peça imunda. Meteram-se num enredo em que a personagem principal é a Odebrecht
e cujo epílogo é uma candidatura presidencial do prefeito João Dória fazendo
cara de nojo e alardeando na televisão que é um empresário, não um político.
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