ILUSTRAÇÃO: ARQUIVO GOOGLE |
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Chega de mentiras, Alceu. Basta! Entendeu? Não suporto mais essa vida que
levamos. Afinal, por que você se casou comigo?
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Por interesse, Matilde, é que não foi. Muito pelo contrário.
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Como assim? Não estou entendendo.
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Quer saber?
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Quero.
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Melhor deixar pra lá, Matilde.
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Não vou deixar pra lá coisa nenhuma. Quero saber, diga de uma vez.
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Matilde: você sempre foi a mais feia das meninas, a mais pobre, a mais
obtusa...
Matilde
esboçou um sorriso de satisfação e apostou todas suas fichas num palpite
furado:
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Então, você se casou comigo por amor, não foi?
Alceu
respirou fundo, resolveu mentir (amara Matilde, sim) e colocar um ponto final
na história arrastada, pois de uns tempos pra cá só tinha cabeça, coração e
membros para Verinha, a cunhada mais nova, dona de bunda e peitos fartos:
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Não, Matilde. Casei por pena, pena de você.
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Cretino. Só agora, depois de vinte anos e três filhos, você me diz barbaridade
dessas?
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Você nunca me perguntou antes, Matilde. Não tenho culpa.
(ORLANDO
SILVEIRA – ATUALIZADO EM ABRIL DE 2017)
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