EMÍLIO, POR CAIO GUATELLI/EXAME |
A ARROGÂNCIA DO PARCEIRO
DE LULA
NA SELEÇÃO DOS CORRUPTOS
Alguém precisa lembrar a Emilio Odebrecht
o que ele de fato é: um quadrilheiro que escapou
da cadeia pelo atalho da delação premiada
Por Augusto Nunes
Veja.com – 19/04/2017
Quem assiste aos vídeos com os depoimentos de Emilio Odebrecht pode
acreditar que quem está falando não é um marechal do imenso exército dos
corruptos que consumou a maior roubalheira de todos os tempos, mas uma sumidade
em assuntos brasileiros. Falante, risonho, ele não depõe: dá aulas sobre a alta
ladroagem, interrompidas só de vez em quando por perguntas em tom respeitoso da
autoridade judicial. O responsável pelos questionamentos nem aparece na tela,
que o mestre divide com o advogado cuja expressão apalermada é acentuada pela
franja Febem.
Num determinado momento, o chefão da usina de maracutaias,
velhacarias, vigarices e bandalheiras ensina que a ladroagem bilionária nada
tem de novidade. “As coisas são assim há trinta anos”, reescreve a história o
pai e mentor de Marcelo Odebrecht. (Se fosse verdade, a Petrobras teria falido
em 1986). Noutro vídeo, proclama-se vítima de um tipo de burocracia que só pode
ser derrotado por montanhas de dólares. (Conversa de 171: o grande assalto foi
concebido em 2003, no primeiro governo Lula, e sangrou os cofres públicos até
2014, quando a Operação Lava Jato começou a ofensiva contra os gatunos da
classe executiva).
Numa terceira lição, Emílio garante que a imprensa não tem o direito
de surpreender-se com a ultrapassagem de todos os limites da abjeção. “Os
jornalistas sempre souberam do que acontecia”, acusa. (Talvez soubessem disso
os que a Odebrecht arrendou, alugou ou comprou. Os decentes nem de longe
imaginavam que, entre 2006 e 2014, a empreiteira gastou em propinas US$ 3,37
bilhões. (Dólares, não reais, frisa a coluna de Carlos Brickmann nesta
quarta-feira. “Até 2008, a Odebrecht gastava em propinas, agrados, pixulecos,
mimos, 0,5% de sua receita anual”, detalha Brickmann. “A partir daí, o volume
aumentou muito. Em 2012, o custo do escândalo já era de 1,7% da receita – e a
receita também tinha aumentado, graças ao fermento da propina”.
Alguém precisava lembrar ao bandido arrogante o que ele de fato é:
um quadrilheiro de alta patente que escapou da cadeia por ter concordado em
revelar minuciosamente as atividades criminosas em que se meteu. Foi o que
começou a descobrir durante a conversa com o procurador Sérgio Bruno, parcialmente
reproduzida no vídeo abaixo. “Deixa de
historinha”, cortou o homem da lei quando o desenvolto fora da lei tentava
transformar uma audiência judicial em outra conversa de botequim. A repreensão
foi oportuníssima. Mas Emílio Odebrecht anda implorando por castigos bem mais
severos.
As revelações que têm feito ajudam a Justiça a cumprir o seu papel.
Mas não transformam um culpado em
inocente. O dono da empreiteira que apodreceu será sempre lembrado como um
titular absoluto da seleção brasileira dos corruptos ─ esse timaço que
encontrou em Lula, o “Amigo”, o inesquecível camisa 10.
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