CARICATURA: J.BOSCO
A PALOCCI, SÓ RESTA DELATAR
Palocci sabe muito. Ele sempre foi o homem do dinheiro
de Lula e do PT. Do dinheiro cuidou também como coordenador
da segunda campanha de Dilma
Por Ricardo Noblat
19/04/2017 - 03h55
Os depoimentos ao juiz Sérgio Moro, ontem em Curitiba, de João Santana, ex-marqueteiro das campanhas
do PT, e Mônica Moura, sua sócia e mulher, só deixaram a Antonio Palocci,
ex-ministro dos governos Lula e Dilma, uma única saída para livrar-se da cadeia
por muitos anos: delatar.
No caso de Lula e de Dilma, os depoimentos esvaziaram o discurso
deles de que não sabiam de nada, de que nunca souberam de uso de caixa dois em
seu favor, e de que foram e continuam sendo exemplos de políticos honestos,
incapazes de ferir a lei.
Santana e Mônica contaram em detalhes como foram pagos nas campanhas
de Lula em 2006, e de Dilma em 2010 e 2014. Orientados por Palocci, a quem Lula
havia recomendado que se reportassem, eles confessaram que foram pagos pelo PT
e pela Odebrecht sempre por meio de caixas um e dois.
O PT pagou com dinheiro declarado à Justiça (caixa um) e não
declarado (caixa dois). A Odebrecht por caixa dois. Era pegar ou largar,
segundo Palocci disse certa vez a Santana. Dinheiro de caixa dois foi pago em
espécie, entregue em mãos, ou depositado em contas no exterior.
O que os dois disseram a Moro confirma o que os delatores da
Odebrecht haviam adiantado à Procuradoria Geral da República. Preso em Curitiba
desde setembro do ano passado, Palocci teve mais um pedido de relaxamento de
sua prisão recusado, ontem, pela Justiça.
Há duas semanas, pelo menos, Palocci começou a negociar sua delação
premiada com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal. Ele tem pressa.
Está perto de ser julgado por Moro sob a acusação de corrupção e de lavagem de
dinheiro.
Os que negociam com ele exigem de Palocci que não se limite a
detalhar a corrupção dentro dos governos Lula e Dilma, e do PT. Querem que ele
conte o que sabe de negócios irregulares que envolveram os governos do PT e o
próprio partido com bancos e empresas.
Palocci sabe muito. Ele sempre foi o homem do dinheiro de Lula e do
PT. Do dinheiro cuidou também como coordenador da segunda campanha de Dilma.
Ela o nomeou chefe da Casa Civil. Mas Palocci logo saiu quando se descobriu que
ganhara milhões de dólares como consultor de empresas.
A eventual delação de Palocci abrirá de vez o caminho para as
futuras condenações de Lula e de Dilma.