NAS ENTRANHAS
Tinha acabado de atravessar a rua
quando tive a nítida sensação de tê-lo visto... Entrei no prédio da Faculdade
às pressas fugindo do sol tórrido do meio-dia. Fui direto para o elevador
quando ouvi alguém pedindo que o esperasse. O meu coração bateu acelerado, aos
pulos... eu sabia que era ele, não podia estar enganada.
Ele ficou atrás de mim, senti o
seu perfume... era o mesmo. Esperava desesperadamente que tivesse me esquecido.
Nem ousava respirar direito. Senti seus dedos me tocando de leve no braço e depois
subindo para a minha nuca. Ele não me esqueceu...
Sua mão pesada acariciava meu
pescoço enquanto eu ia perdendo o compasso da minha respiração. A porta do
elevador abriu-se, mas ele não me deixou sair:
- Espera – pediu-me suavemente,
segurando meu braço.
Sem olhar nos seus olhos,
obedeci. Ele me puxou para uma pequena sala do nono andar, virou-me bruscamente
forçando um beijo que a todo custo queria evitar, eu sabia que sucumbiria...
Ele forçou-me a entreabrir os lábios com tamanha urgência que feriu-me. Fiz um
último esforço para tentar desvencilhar-me, inútil, ele jamais medira a força
que tinha e só o instiguei mais ainda.
Senti sua língua urgente, a
saliva quente em minha boca. Colei meu corpo ao dele me entregando sem pudores.
Ouvi seu gemido de satisfação quando eu o segurei pelos cabelos. Deixei-me
possuir ali mesmo e tudo que estava a nossa volta desapareceu.
Tocava seu corpo com medo, mas
com a mesma fome de ontem.. Inúmeras centelhas acendiam meu corpo num calor
insuportável e aquela ardência despudorada que subia e subia, até que
explodimos em gozo, risos e lágrimas.
Ele continuou dentro de mim
tentando perpetuar aquele momento. Eu nada lhe perguntei...nem ele. Saímos do
prédio de mãos dadas. Ele me abraçou forte. Eu beijei-lhe a palma das mãos.
Seguimos caminhos opostos, pois o tempo há muito fugira de nós e no meu corpo,
impregnado de seu perfume, ficou a sua
última lembrança.
Jorge Macedo comentou: Além de grande poetisa é uma excelente cronista. "NAS ENTRANHAS" tem um texto instigante e que nos transporta ao ponto de pensarmos estar fazendo parte da trama. Parabéns a Núbia Nonato e ao BLOG DO LANDO!
ResponderExcluir