(POR BRUNO NEGROMONTE) Hoje trarei mais algumas
curiosidades sobre o nosso cancioneiro. Ao longo do último mês, tive a
oportunidade de contar, no Jornal da Besta Fubana, algumas passagens
interessantes na vida do poetinha Vinícius de Moraes. Na ocasião, comemorava-se
um século de seu nascimento. E abordar o nome do “branco mais preto do Brasil”
(como o próprio Vinícius se auto intitulava) me fez lembrar de outra figura do
nosso cancioneiro que por muitos anos acompanhou o poeta carioca em sua vida
noturna assim como também em algumas situações inusitadas como veremos a
seguir.
Bruno Negromonte |
Quem conhece a biografia do
Vinícius não a desassocia da figura do poeta, cronista, comentarista esportivo
e compositor pernambucano Antônio Maria. Parceiro de pena e de copo, Antônio
era tão notívago quanto o poetinha, e isso os aproximou de modo bastante
intenso. Essa aproximação, além de uma grande amizade, gerou uma parceria
musical que rendeu canções como “Quando tu passas por mim”, “Dobrado de amor a
São Paulo” e “Bate, coração”. Vale salientar que Antônio Maria foi autor de
clássicos do nosso cancioneiro como as canções “Manhã de carnaval”, “Ninguém me
ama”, “Frevo Nº 3 do Recife”, entre outras.
Começou sua carreira como locutor
da Rádio Clube de Pernambuco aos 17 anos.
Dois anos depois resolve mudar-se para o Rio de Janeiro e arrisca a
carreira de locutor esportivo na Rádio Ipanema. No Rio foi morar no Edifício
Souza, na Cinelândia, no apartamento 1005. Este prédio tornou-se famoso por ter
entre seus moradores nomes como Dorival Caymmi, Fernando Lobo e Abelardo
Barbosa, que então ainda não era o famoso Chacrinha (o poeta e compositor
descreve em sua coluna Pernoite, publicada na revista Manchete, um pouco dessa
época em que morou no Souza). No entanto, por não ter alavancado a sua carreira
passou apenas dez meses na então capital federal e resolveu voltar para o
Recife onde acabou casando.
Como diretor das Emissoras
Associadas, muda-se para duas cidades nordestinas: Fortaleza e Salvador. Na
primeira vai trabalhar na Rádio Clube do Ceará, já na capital baiana trabalha
como diretor. Por volta de 1947 volta ao Rio de Janeiro para trabalhar como
diretor artístico na Rádio Tupi. Sendo em seguida convidado pelo próprio Assis
Chateaubriand a ser o primeiro diretor de produção da TV Tupi, inaugurada em 20
de janeiro de 1951. No ano seguinte a então maior concorrente da Rádio Tupi, a
Rádio Mayrink Veiga, contrata Antônio Maria por 50 mil cruzeiros, o salário
mais alto do rádio brasileiro de então.
Vem dessa segunda estadia no Rio
a sua aproximação ao então poeta, compositor e ainda diplomata Vinícius de Moraes.
Dessa época, uma passagem interessante na biografia do pernambucano, que
ocorreu quando Maria precisou fazer uma viagem até São Paulo e como morria de
medo de aviões passou a noite junto a Vinícius de Moraes que tentava tranquilizá-lo
entre uma dose e outra. Todas as tentativas foram em vão. Vinícius o acompanhou
até o aeroporto ainda na esperança de deixar o amigo mais tranquilo.
No
entanto, Antônio Maria manteve-se
apreensivo até o momento do embarque. Já dentro do avião, Maria senta-se ao
lado de uma lindíssima loira que abriu a bolsa e retirou um dos livros do
poetinha. Antônio, que sabia a obra de cor e salteado, não perdeu a
oportunidade e citou um dos poemas existentes no livro em voz alta chamando
atenção da mulher que estava ao seu lado. Ao perceber que a loira havia “caído
em sua armadilha”, disse o nome do poema, a página onde ele se encontrava e
apresentou-se como Vinícius de Moraes. A partir daí, o medo de avião esvaiu-se
e a investida foi tão bem sucedida que “Vinícius de Moraes” conseguiu marcar um
jantar com a loira. A noite rendeu boas conversas e um convite do falsário
(prontamente aceito pela loira) de passarem a noite juntos. Na volta ao Rio,
Vinícius de Moraes foi recepcionar o amigo e saber como tinha sido a viagem.
Encontrou um Antônio bem diferente daquele que havia saído do Rio e o
questionou:
- O que lhe fez ficar assim tão
animado?
Antônio respondeu:
Antonio Maria |
- Tenho uma notícia boa e outra
ruim, qual você quer primeiro Vinícius?
O poetinha responde que queria
primeiro a notícia boa, aí então Maria começou a contar:
- Conheci uma baita loira no voo
e ela estava lendo um livro seu. Confesso que me apresentei como se fosse você
e ela encantou-se por mim...
Vinícius por curiosidade nem
deixou Antônio Maria terminar de contar a história e perguntou logo pela
notícia ruim que foi respondida da seguinte forma:
- Meu amigo, após a aterrissagem,
marcamos um jantar e entre uma taça e outra a convidei para irmos até o local
onde eu estava hospedado e não é que Vinícius de Moraes falhou...
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