ESTÓRIAS E HISTÓRIAS DA MPB (PARTE
III)
Quem acompanha este espaço e por
conseguinte esta coluna talvez lembre que venho ao longo das últimas semanas
trazendo algumas curiosidades acerca do cancioneiro brasileiro e dos
personagens que o constitui. Durante a semana passada foi abordado o nome do
maestro Antonio Carlos Jobim e o multifacetado Vinicius de Moraes. A tempo do
ano do seu centenário, esta semana abordarei algumas histórias sobre o
Vinicius. Feliz definição teve o cantor e compositor Oswaldo Montenegro
definindo o poetinha quando disse: 'De tantos tinha nome e sobrenome no
plural.'
De início posso começar a contar
um problema que Vinícius tinha que assola boa parte dos brasileiros: insônia.
Ele costumava dizer que invejava quem batia na cama e dormia logo. Sua última
esposa, Gilda Mattoso, costuma contar que quando pedia para o poeta acordá-la
ela sempre perdia as horas. Ele costumava dizer que não tinha coragem de
acordar ninguém. Em suas crises de insônia ele costumava entrar na banheira com
água morna, que dizia ser o útero da mãe. Ficava ali e, quando vinha o sono,
ele saía da banheira e se metia na cama, ainda molhado, para não perder o
embalo. Se o sono não engrenasse, não fazia cerimônia e voltava para a água
para reiniciar todo o processo.
Uma das características de
Vinícius, que falava com fluência vários idiomas, era misturá-lo nessas turnês
corridas. Chico Buarque certa vez contou que quando estava em Roma foi a uma
apresentação do autor de “Chega de saudades” e ele contava mil casos a plateia.
O público ria muito, inclusive um senhor que estava sentado ao lado de Chico
que olhou para Chico e exclamou:
- E bravíssimo questo Vinicius
ma, scusa che língua parla? (É fantástico esse Vinícius, mas me desculpe, que
língua ele está falando?).
Outra passagem interessante na
biografia do saudoso artista aconteceu por volta de 1980. Nessa época Vinícius
já não mantinha a vida social de outrora e isso o deixava bastante abatido.
Esforçava-se para sair, ver amigos, mas estavam cada vez mais complicadas e
sofridas essas saídas. Nessa época João Gilberto gravaria para a rede Globo um
programa para a série “Grandes nomes”, no entanto no dia marcado para a
gravação o poeta passou mal. Vinícius ficou inconsolado em não ter condições de
participar desse programa até que dias depois ele recebeu a visita do parceiro
Baden Powell.
Durante toda tarde, Baden tocou e
os dois cantaram em uma alegria de dar gosto. Baden ficou para jantar e ao
final da refeição caiu uma chuvarada feia que fez com que permanecesse na casa
de Vinícius para poder voltar para casa no dia seguinte, já que a cidade
provavelmente estava alagada. O poeta e sua esposa providenciaram as
acomodações de Baden no quarto de hóspedes e seguiram também para o quarto para
também dormirem. Trocaram de roupas e já preparavam-se para deitar quando o
interfone toca e do outro lado era Miúcha que o questionou se ainda estavam
acordados. Mesmo de pijama o poetinha prontamente respondeu entusiasmado:
— Tô Miuchinha, pode entrar.
Quando a porta foi aberta entraram
não só Miúcha, mas também João Gilberto com seu violão. João refez para
Vinícius o especial todinhos com várias interrupções para atender a pedidos de
Vinícius. João pacientemente atendeu a todos os pedidos ao longo de toda a
noite e saíram já com o dia amanhecendo.
Ao acordar no dia seguinte por
volta de meio-dia foram acordar Baden, que ainda repousava, para comer alguma
coisa. Baden chegou a dizer que teve um sonho excelente: “Parecia que João
Gilberto tocava e cantava a noite toda para me embalar…” (Bruno Negromonte)
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