A IGNORÂNCIA QUE ASTRAVANCA O PROGRESSO
Um famoso poeta pernambucano, o qual, diga-se de passagem, também
admiro, chegou mesmo a escrever um artigo inflamado, publicado em um jornal de
grande circulação no Estado, protestando contra a ação prepotente que
sacrificaria, inclusive, uma mangueira ali existente há décadas.
O que não sabiam, porém, é que o ex-prefeito, ex-metalúrgico e filho de
um cobrador de ônibus, eleito surpreendentemente no ano 2000, derrotando o
candidato apoiado pelas forças políticas então majoritárias no Estado e que
predominava nas pesquisas eleitorais, estava apenas retomando o projeto
original idealizado pelo paisagista Burle Marx.
Segundo os estudiosos do assunto, o Cactário da Madalena, como também
era designada a praça inicialmente, procurava retratar no seu núcleo a imagem
da catinga nordestina, com espécies deste bioma, notadamente os cactos. Consta
ainda que o arquiteto carioca teria se inspirado nos cenários sugeridos pelo
livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, por ele admirado.
Na verdade, dentro do desenho concebido por ele para o logradouro, a
vegetação da caatinga ocupava o seu centro e, na parte mais externa,
circundando a praça, seriam plantadas espécies nativas da Mata Atlântica.
Ao longo dos anos, porém, por conta da ação da natureza e da mão do
próprio homem, a concepção inicial foi se deturpando e transformando-se numa
mistura que mais nada tinha a ver com o projeto inicial. A intervenção
municipal, portanto, visava apenas devolver à cidade a praça como originalmente
fora concebida e construída.
É claro que nos questionamentos expressados e apressados havia uma boa
dose de má vontade e de oposição política disfarçada. Feitas as devidas
explicação pelo órgão municipal, calaram-se todos ante a evidência de que o
prefeito estava mais do que certo.
Isso tudo me veio à mente, quando nas minhas caminhadas vespertinas na
recém restaurada Praça do Forte, nos Torrões, vejo a arborização sendo refeita
com árvores decorativas, mas alienígenas. No meu entendimento, a entidade
municipal deveria, repetindo a clarividência de Burle Marx, reflorestar as
áreas das praças da cidade com espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, restaurando
esse bioma e trazendo de volta a fauna espantada (principalmente os pássaros)
para longe do perímetro urbano.
Sei que o atual prefeito tem o tempo integralmente ocupado pelos afazeres
inerentes à sua função, mas a sugestão fica feita para futuros estudos e
aplicações.
Recife, 2013
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