sábado, 7 de dezembro de 2013

CLÓVIS CAMPÊLO

IGNORÂNCIA QUE ASTRAVANCA O PROGRESSO 

Quando o ex-prefeito do Recife João Paulo de Lima e Silva mandou derrubar algumas árvores da Praça Euclides da Cunha, na Ilha do Retiro, não só a imprensa como também alguns intelectuais recifenses e pernambucanos criticaram a atitude como um crime ecológico e digno de uma mentalidade restritiva e tacanha.

Um famoso poeta pernambucano, o qual, diga-se de passagem, também admiro, chegou mesmo a escrever um artigo inflamado, publicado em um jornal de grande circulação no Estado, protestando contra a ação prepotente que sacrificaria, inclusive, uma mangueira ali existente há décadas.

O que não sabiam, porém, é que o ex-prefeito, ex-metalúrgico e filho de um cobrador de ônibus, eleito surpreendentemente no ano 2000, derrotando o candidato apoiado pelas forças políticas então majoritárias no Estado e que predominava nas pesquisas eleitorais, estava apenas retomando o projeto original idealizado pelo paisagista Burle Marx.

Segundo os estudiosos do assunto, o Cactário da Madalena, como também era designada a praça inicialmente, procurava retratar no seu núcleo a imagem da catinga nordestina, com espécies deste bioma, notadamente os cactos. Consta ainda que o arquiteto carioca teria se inspirado nos cenários sugeridos pelo livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, por ele admirado.

Na verdade, dentro do desenho concebido por ele para o logradouro, a vegetação da caatinga ocupava o seu centro e, na parte mais externa, circundando a praça, seriam plantadas espécies nativas da Mata Atlântica.



Ao longo dos anos, porém, por conta da ação da natureza e da mão do próprio homem, a concepção inicial foi se deturpando e transformando-se numa mistura que mais nada tinha a ver com o projeto inicial. A intervenção municipal, portanto, visava apenas devolver à cidade a praça como originalmente fora concebida e construída.

É claro que nos questionamentos expressados e apressados havia uma boa dose de má vontade e de oposição política disfarçada. Feitas as devidas explicação pelo órgão municipal, calaram-se todos ante a evidência de que o prefeito estava mais do que certo.

Isso tudo me veio à mente, quando nas minhas caminhadas vespertinas na recém restaurada Praça do Forte, nos Torrões, vejo a arborização sendo refeita com árvores decorativas, mas alienígenas. No meu entendimento, a entidade municipal deveria, repetindo a clarividência de Burle Marx, reflorestar as áreas das praças da cidade com espécies vegetais nativas da Mata Atlântica, restaurando esse bioma e trazendo de volta a fauna espantada (principalmente os pássaros) para longe do perímetro urbano.

Sei que o atual prefeito tem o tempo integralmente ocupado pelos afazeres inerentes à sua função, mas a sugestão fica feita para futuros estudos e aplicações.

Recife, 2013





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