A VIRGEM DA CONCEIÇÃO
O dogma não merece contestações. A fé deve ser cega. Desde o espaço
etéreo ou Oxogbo. No sincretismo religioso, aliás, segundo alguns, ela
corresponderia a Oxum, dona da água doce, dos rios e das cachoeiras. Padroeira
da fecundidade, ela protege o feto e a criança em gestação. Seus filhos possuem
doçura no olhar, embora chantagistas e dramáticos para conseguirem a piedade
alheia.
No Recife, a imagem chegou em 1904, vinda da França, e subiu o antigo
Outeiro de Bagnuolo. Lá se instalou, abençoando a cidade maurícia com o seu olhar. Atrás dela, foi o povo recifense. E,
diferentemente de Nossa Senhora do Carmo que arrasta multidões pelas ruas
largas da planície, a fé subiu o elevado em espirais concêntricas e intensas.
Afinal, o morro está mais pertinho do céu.
A imagem mede 5,5 metros de altura e pesa 1.806 quilos. Representa Nossa
Senhora da Conceição, vestida de branco, enrolada em um manto azul, de pé sobre
o globo terrestre, com as mãos unidas em oração e uma cobra sendo esmagada
pelos pés, para simbolizar a passagem bíblica do livro do Gênesis, onde Deus
diz: “Porei inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a dela.
Tu lhe ferirás o calcanhar e ela te esmagará a cabeça”.
Foto: Diego Nigro |
Segundo o dogma católico, a Imaculada Conceição representa a Virgem
Maria sem a mancha (mácula) do pecado original. O dogma foi oficializado pelo
Papa Pio IX em 8 de dezembro de 1854, em sua bula Ineffabilis Deus. Além da citação do Gênesis acima, o papa, para
justificar o dogma, também recorreu, no Cântico
dos Cânticos, ao verso “Tu és toda formosa, meu amor, não há mancha em ti”.
Afinal, como poderia Jesus, um ser puro, ser concebida por uma pessoa impura?
São Tomás de Aquino, aliás, foi um dos poucos doutores da Igreja a
questionar o dogma mariano. No Livro das
Sentenças, escrito provavelmente em 1252, quando ele contava com apenas 27
anos de idade e iniciava as suas atividades acadêmicas em Paris, questionou o
dogma afirmando que a pureza se consegue com o afastamento dos contrários e se
não houvera o contágio do pecado, como poderia a Virgem Maria conceber um novo
ser?
A essa pergunta, ele mesmo responderia posteriormente, no final da vida,
quanto retomou a crença da verdade do dogma da Imaculada Conceição, admitindo
que ela nunca incorrerá em nenhum pecado, nem original, nem mortal ou venial.
Sob essa questão, aliás, seria interessante mencionar de passagem as
concepções expressadas em 1968 pelo escritor suíço Erich von Daniken, no livro Eram os Deuses Astronautas?, quando
levanta a possibilidade de que Jesus Cristo tenha sido concebido através de uma
inseminação artificial feita por seres alienígenas.
Recife, 2013
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