A VIDA SE ENCAMINHA
Observo da minha janela a vida que se encaminha.
Pássaros novos se apresentam e aprendem rapidinho a roubar a ração da
Lola. A viuvinha esperta como só já escarnece da pobre que nunca é rápida o
bastante.
Os parasitas voltaram e quando o vento sacode o pé de acerola é como
se caíssem flocos de neve.
O chão está coalhado de pétalas que ao serem pisadas fazem o mesmo
barulhinho de um gongolo esmagado.
Dei outra topada na pobre da Julinha que até hoje não sei ao certo se
é uma tartaruga, jabuti ou um cágado. Minha irmã diz que ela é burra.
Ouço uma voz distante me perguntando se não tenho coisa melhor para
fazer, ignoro o comentário, hoje é sábado.
Tem um pombo no telhado da
vizinha de olho no meu quintal, se eu fosse
ele não desceria, pombos são lerdos e a cachorra os odeia.
De repente penso no meu pai que
sempre para no meio do corredor com a toalha em uma das mãos e a cueca
na outra, ele esquece onde fica o banheiro.
Acabo comparando-o ao pequeno passarinho que raramente desce do muro e
fica o tempo todo coçando o peito com o bico.
Choro, mas apenas por medo das lembranças que aos poucos vão desbotar,
dos registros que se dissiparão.
Respiro fundo duas, três vezes, esfrego rapidamente os olhos e
afugento as lágrimas.
A vida se encaminha.
Gosto cada vez mais e permito-me divulgar sua poesia... algumas pessoas podem precisar dela!
ResponderExcluirOlha aí, Núbia.
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