quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

NÚBIA NONATO

A VIDA SE ENCAMINHA



Observo da minha janela a vida que se encaminha.

Pássaros novos se apresentam e aprendem rapidinho a roubar a ração da Lola. A viuvinha esperta como só já escarnece da pobre que nunca é rápida o bastante.

Os parasitas voltaram e quando o vento sacode o pé de acerola é como se caíssem flocos de neve.

O chão está coalhado de pétalas que ao serem pisadas fazem o mesmo barulhinho de um gongolo esmagado.

Dei outra topada na pobre da Julinha que até hoje não sei ao certo se é uma tartaruga, jabuti ou um cágado. Minha irmã diz que ela é burra.

Ouço uma voz distante me perguntando se não tenho coisa melhor para fazer, ignoro o comentário, hoje é sábado.

Tem  um pombo no telhado da vizinha de olho no meu quintal, se eu fosse  ele não desceria, pombos são lerdos e a cachorra os odeia.

De repente penso no meu pai que  sempre para no meio do corredor com a toalha em uma das mãos e a cueca na outra, ele esquece onde fica o banheiro.

Acabo comparando-o ao pequeno passarinho que raramente desce do muro e fica o tempo todo coçando o peito com o bico.

Choro, mas apenas por medo das lembranças que aos poucos vão desbotar, dos registros que se dissiparão.

Respiro fundo duas, três vezes, esfrego rapidamente os olhos e afugento as lágrimas.

A vida se encaminha.





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