Lula, como nós sabemos, já se comparou a
Getúlio e a Juscelino. Tempos atrás, declarou-se um homem sem pecados, quase
santo. Lula, no entanto, até onde sei, nunca admitiu seu lado Jânio Quadros. E
ele o tem. Não me refiro aos arroubos verbais e à vermelhidão no rosto – marcas
presentes em muitas de suas aparições públicas. Ignoro se Lula tem ou se Jânio
teve problemas com o sol. Parece que a questão é outra, de natureza etílica. Quanto
ao linguajar, ambos sempre trataram de maltratar a “inculta e bela”. Jânio
abusava do Português castiço, falava de um modo que ninguém fala; Lula adota o
que se poderia chamar de Português postiço.
Jânio fez enorme sucesso com seus
bilhetinhos. Nunca o Diário Oficial -
da União, Estado e Município - foi tão disputado nas redações como nos tempos
em que ele ocupou os cargos de presidente da República, governador de Estado e
prefeito. Lula, que já admitiu publicamente ser avesso à leitura, tem a
prudência de não escrever bilhetes. O único deles que vazou para a imprensa,
durante uma cerimônia da qual ele participava, era de uma ruindade raramente
vista. O “estilo” de quem não lê nada é sofrível. Não há escapatória.
Vamos ao que importa: Lula e Jânio nunca
nutriram grande respeito pelo Legislativo.
Prefeito de São Paulo pela segunda vez
(1986/1988), Jânio governava na base do decurso de prazo - uma estrovenga
herdada do período militar, que lhe permitia aprovar toda e qualquer matéria de
seu interesse sem o aval da Câmara de Vereadores. Para tanto, bastava que os
seus aliados saíssem do plenário, por dez sessões consecutivas. Assim, as
sessões eram derrubadas por falta de quórum e os projetos, aprovados
automaticamente. E o que faziam os aliados de Jânio? Faziam exatamente o que o
chefe lhes ordenava - desde que, em troca, ganhassem alguns “mimos”.
No exercício do segundo mandato, Lula
continuou fazendo o que fazia no primeiro: editou uma medida provisória atrás
da outra, para travar a pauta do Congresso, abrir as portas para transações
nebulosas e impedir que outras matérias fossem discutidas e votadas. Quando lhe
interessava, baixava uma medida provisória para revogar outra. O que deixa
claro que, na esmagadora maioria dos casos, as medidas provisórias não se
revestem de qualquer urgência e relevância. E o que faziam os aliados de Lula?
Faziam o que o chefe lhes ordenava – desde que, em troca, ganhassem alguns “mimos”.
Os tempos mudaram. Washington Luís
acreditava que governar era abrir estradas. Coisa que Lula não fez, embora
conte com um imposto específico para este fim - a tal da CIDE. Lula gostava era
de remendar estradas, em tempo de chuva brava e sem licitações. Mas esta é
outra história, igualmente cabeluda. O fato é que, de uns tempos para cá,
parece ser impossível “governar” sem distribuir “mimos”.
Bons tempos aqueles em que os governantes
cuidavam ao menos das estradas, e senadores, deputados e vereadores não se
preocupavam tanto com os “mimos”. Que a minoria também pague pela maioria
“mimada” são os ossos do ofício.
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