A MINHA INSIGNIFICÂNCIA
CLÓVIS E SUA "INSIGNIFICÂNCIA" |
Na
casa do meu sogro, em Carolina, no sul do Maranhão, era assim: só quem dormia
em cama era ele e a mulher, minha sogra. Foi assim, aliás, que constituíram uma
família de nove filhos. Os filhos, estes, todos, dormiam em redes no quarto
contíguo. Assim, quando fui admitido na família, inseri a minha na rede na
fileira do quarto filial. Era mais um que chegava, mais uma rede para
contabilizar que a família voltava a crescer e começava a receber novos
agregados.
De
Carolina para o Recife, foi um pulo. Na minha casa, nunca faltou uma rede.
Nelas, embalei os meus filhos e os netos. Com um pouco de sorte, talvez consiga
até embalar os bisnetos. A rede passou a fazer parte do nosso ambiente
doméstico. Um utensílio indispensável.
Procuro
no Google, o novo pai dos burros, quem inventou a rede e conformo que se trata
de uma invenção ameríndia, feita originalmente com cipós e lianas. No Brasil
colônia foi reinventada com algodão e enfeitada com franjas. Deixava, assim, de
ser um utensílio doméstico indígena para ser um ornamento a mais nas casas dos
nossos invasores e dominadores.
Durante
muitos anos morei em um prédio no bairro do Cordeiro, no Recife, onde disputava
com um vizinho para ver quem permanecia mais tempo na rede, à noite, nos
terraços dos nossos apartamentos. Era uma disputa mais do que amigável, já que
ele, um matuto de Jataúba, cidade situada no agreste do Estado, não dispensava
horas de relaxamento e cochilos na rede.
Por
essa época, apelidei a rede de “minha insignificância”. Sempre que precisava
interromper alguma conversa longa ou desinteressante, usava sempre esse
argumento: “já está na hora de me recolher à minha insignificância”! Funcionava
a contento, as pessoas entendiam e até achavam graça.
Hoje,
mesmo morando no décimo sexto andar de outro edifício, não dispenso a rede no
terraço, onde costumo ver a lua cheia nascer por trás dos edifícios da
Madalena. Mesmo assim, ainda insatisfeito por conta dos dias de chuva, que me
privam do terraço panorâmico, instalei outro armador de rede na sala para as
emergências.
Por
nada nesse mundo, eu me separo da minha insignificância!
Recife,
dezembro 2014
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