NINGUÉM PASSA INCÓLUME AO SEU SOM...
Entre os mais variados gêneros Wesley Nóog mostra aquilo que lhe constitui
Com quinze anos de estrada e cinco álbuns lançados Wesley Nóog traz em sua música um balanço genuinamente brasileiro norteado principalmente pelos grandes nomes do soul nacional. Ativista cultural, poeta, cantor e compositor, Nóog traz seu DNA constituído por música, uma vez que seus pais e tios são coristas e maestros. Filho de funcionários públicos e de família religiosa baseada na tradição metodista, o pequeno Ocimar Wesley Nogueira estudou Teologia e música e teve uma infância ambientada neste contexto sempre alimentando o desejo de cantar e compor. No entanto a sua pobre infância acabou o afastando deste desejo que tanto acalentava por conta de motivos maiores. Atendendo a vontade dos pais Wesley priorizou seus estudos seguindo, aos 16 anos, para o Seminário, onde permaneceu por 12 anos sem nunca abrir mão do desejo germinado ainda na infância. Pelo contrário, foi no Seminário que o artista teve a oportunidade de não só alimentar a sua fé assim como também mergulhar na música e desenvolver as suas aptidões para a arte a partir de um bem estruturado ambiente, onde somado a atmosfera da década de 1970 propiciou ao jovem Ocimar o ambiente ideal para sincretizar a sua arte. Vale registrar que ao longo deste período teve a oportunidade não só de estudar em uma escola estruturada numa fazenda ocupada como também foi educado e conviveu com professores que tinham como herança a Teologia da Libertação das comunidades eclesiais de base, fomentando de modo substancial aquilo que Nóog começou a desenvolver como arte a partir das influências captadas através da sonoridade de nomes como Tim Maia, Jorge Ben, Cassiano, Carlos Dafé e Hyldon, artistas de fundamental importância para a formação da sonoridade do artista.
Ligado a movimentos populares, Wesley Nóog procura levar para a sua arte um pouco daquilo que busca alcançar também enquanto cidadão desde que iniciou sua carreira em 1993 com o grupo Swing e Cia. Após cinco anos no grupo passou a integrar outro grupo, o Estação Fankalha, relevante grupo do cenário musical alternativo. Seu primeiro trabalho solo foi registrado em forma de single e foi composto por duas faixas. Intitulado de "Mameluco Afro Brasileiro", este debute fonográfico do artista se deu em 2008 como prévia de um projeto mais ousado que culminaria dois anos depois com um álbum constituído por 10 músicas, esmerado através do resultado de um profícuo diálogo entre os ritmos existentes no Brasil aliados as influências do soul e da black music. Nesta trajetória sempre optou por seguir um caminho alternativo aquele imposto pelas indústrias fonográficas, o que fez com que sua música fosse atrelada aquilo que lhe convinha, o que acabou favorecendo de modo substancial o seu engajamento devido as parcerias com alguns movimentos populares, como a Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) um dos movimentos artísticos mais ativos do estado de São Paulo. "Estar ligado a estas iniciativas permite que eu tenha uma visão mais clara da realidade como também ter ações transformadoras que são negadas pela educação 'oficial' e, acima de tudo, exercer a minha função na história como artista cidadão, aquele que vai onde o povo está", bem define o artista mostrando a sua arte em lugares como a França, por exemplo.
"Soul assim" é um projeto totalmente autoral que busca refletir, de certo modo, como uma espécie de autobiografia coletiva, procurando registrar histórias da periferia a partir da figura de Wesley. O disco que conta com onze faixas, perpassa por gêneros como o samba soul, o funk, o charme entre outros que não só constituem toda a sua sonoridade mas também daqueles que o influencia artisticamente. Faixas como "Não Há Mal que Prevaleça", Nóog conta que fez uma modesta leitura do suingue do saudoso mestre Tim Maia. Em "Parati" Wesley tem a possibilidade de não só prestar uma homenagem ao município do litoral carioca como também usar o título como dedicatória a partir de um jogo de palavras, o samba-soul "Melhores Sabores" trata de modo análogo alguns dos diversos sabores que extrapolam os dotes culinários. Canções como "Chora Cuíca", "Meu Samba", "Vários Erros", "Presente de Flores" e "Salve a Flor" trazem a possibilidade de ouvir e avaliar a diversidade do artista a partir de sua veia sambista. Já "Cantador Guerreiro" aborda de modo melódico e poético o sincretismo religioso existente em nosso país. O disco ainda conta com "A Esperança Passa" e "Soul Assim" que batiza o álbum deste artista que almeja um dia conquistar os fãs do ídolo Tim Maia. Em síntese pode-se afirmar que o álbum é uma espécie de autobiografia de todas as coisas que o artista vive e observa.
Produzido pelo maestro Claudio Miranda e pré produzido pelo próprio Nóog em parceria com Tiano Bless (que também é responsável pelos teclados, efeitos e moogs), a ficha técnica do álbum "Soul assim" conta ainda com nomes como Paulinho (bateria) Pikeno (percussão), Claudio Miranda (cavaquinho, banjo, baixo, guitarra, violão e percussão); Cintia Pitcci (flautas, sax e arranjos), Richard Oliveira (trombone, trompete, sax, flautas e arranjos); Nando Rangel e Celso Bernucio (guitarra musical parati) e Rafael Azevedo (contra baixo elétrico). A divulgação e prensagem do álbum contou com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que através do Corredor Cultural Mameluco Afro Brasileiro (iniciativa criada pelo próprio Nóog). É válido registrar que todas essas parcerias e articulações contribuíram de modo significativo para o barateamento do projeto. O disco que a princípio exigia um investimento de cerca de R$ 70 mil, saiu por cerca de R$ 20 mil, ou seja, 70% a menos que os números iniciais. Deste modo Wesley Nóog vem traçando de forma bastante peculiar a sua arte, deixando refletir-se nela tudo aquilo que a periferia assimila a partir da grande mídia e da indústria cultural em um momento de verdadeira antropofagia de nós mesmos como vocês poderão conferir ao ter a oportunidade de conhecer não só a arte mas todo o engajamento do artista.
Fica para os amigos leitores duas faixas de "Soul assim". A primeira trata-se de "Meu samba", canção como já dito da lavra do próprio artista e que pode ser acessada a partir do link abaixo:
http://minhateca.com.br/brunonegromonte/Faixa+01(1),215940328.mp3(audio)
A segunda canção trata-se de "Não há mal que prevaleça", onde a partir do mesmo procedimento pode ser ouvida através do link:
http://minhateca.com.br/brunonegromonte/Faixa+02,215940271.mp3(audio)%3C/div
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