quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CLÓVIS CAMPÊLO

SOFRÊNCIA!



Oriunda da zona da mata sul do Estado de Pernambuco, a minha mãe, durantes muitos anos, manteve um pequeno sítio na zona rural da cidade de Rio Formoso. Era um lugar maravilhoso, resultante do desmembramento do Engenho Carrapato, onde ela vivera quando menina. Um local repleto de árvores frutíferas, repletas de pássaros canoros, cortado por um pequeno riacho, repleto de peixes e muçus.

Ainda menino, gostava de estar ali nas férias. Mas, sempre nos finais de tarde, apesar de curtir o local, era acometido de uma tristeza inexplicável, uma depressão que se desfazia na manhã seguinte, quando o sol a tudo iluminava. Nunca entendi direito esse sentimento negativo que me acometia a alma no final do dia.

Sempre imaginei que apenas eu, nesse mundo repleto de pessoas boas e más, fosse o depositário dessa emoção. Até que um dia, entrevistando o escritor Edson Nery da Fonseca, no belo sobrado onde morava, na cidade de Olinda, ouvi-o dizer a mesma coisa: não gostava dos entardeceres bucólicos dentro do mato. Preferia os fins de tarde à beira-mar, curtindo a sinfonia dos ventos e sentindo os últimos raios do sol que se ia. Éramos companheiros, portanto, naquele sentimento estranho e supostamente solitário.

Clóvis Campêlo

Também nos dias de chuva, sinto-me alterado por uma tristeza inexplicável. Como bom sagitariano que sou, preciso do calor e da luminosidade do sol para me energizar. Não conseguiria, portanto, morar em um local onde o céu não seja aberto e azul, e o dia claro como deve ser um dia feliz.

A explicação para isso encontrei no livro de homeopatia do dr. Nilo Cairo, onde ele mostra que o aumento da pressão barométrica nos dias de chuva pode influenciar de modo negativo algumas almas mais sensíveis. Do mesmo modo, o aumento da umidade relativa do ar, fazendo com que os fungos proliferem também pode afetar os maníacos depressivos como eu, e deixar-lhes de baixo astral.

Quando menino, no inverno chuvoso do Pina, quando a praia e o mar desapareciam no ambiente púmbleo e invernoso, imaginava-me como um pato selvagem dos desenhos animados da televisão, migrando para o sul em busca do sol quente.

Enfim, a vida é isso. Somos animais que reagem química e fisicamente aos estímulos externos. Adaptar-se é preciso para sobrevivermos. Acho que consegui.


Recife, janeiro 2015




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