JOÃO TAUBKIN - ENTREVISTA EXCLUSIVA
Um baixo, guitarra, violão e uma bateria; eis o João Taubkin Trio, um projeto contemporâneo constituído por diversos gêneros em uma coerente unidade sonora
Se alguns sobrenomes pesam dentro da música o que João traz é um deles. João Taubkin é filho do conceituado pianista, arranjador, compositor e produtor Benjamim Taubkin, mas vem trilhando o seu próprio caminho no universo fonográfico desde 2002, quando participou da gravação do CD "Danças, jogos e canções", da Orquestra Popular de Câmara. De lá até cá vem dando vazão a sua sonoridade não só acompanhando o seu pai, mas através de diversos projetos ao lado de outros grandes nomes da música brasileira, tais quais Paulo Moura, Léa Freire, Mônica Salmaso entre outros. Sem contar a sua trajetória internacional ao lado de nomes como o do argentino Carlos Aguirre, o do indiano Madhup Mudgal e o do suíço Laurence Revey. Tudo e muito mais sobre o entrevistado de hoje pode ser conferido através da pauta publicada ao longo da semana anterior aqui mesmo nesta coluna. Não deixando as parcerias de lado, atualmente João hoje vem dedicando-se ao projeto João Taubkin Trio, que ao lado do baterista Bruno Tessele e do guitarrista Zeca Loureiro vem brilhantemente conseguindo encontrar o eixo central da alquimia sonora a qual se propuseram ao dar início a esta ideia. De modo bastante solicito, João Taubkin disponibilizou um pouco do seu tempo para nos presentear com esta despretensiosa e exclusiva entrevista que traz, dentre outras coisas, curiosidades a respeito de sua biografia e de sua carreira tais quais como o seu caminho cruzou com outros componentes do seu trio, suas influências enquanto músico e quais os projetos para este ano que acaba de começar. Boa leitura!
Quem conhece a sua biografia sabe que você tem um histórico familiar de envolvimento com a música, mas isso nem sempre é fator determinante para que nos tornemos músico. Quando foi que você atinou para a música por conta própria?
João Taubkin - No inicio do ginásio criei um grupo de rock com os amigos e desde então nunca mais parei. Na época tocava guitarra. Quando terminei o colegial não sabia o que eu queria fazer, entrei no cursinho no embalo e nesse cursinho fiquei por 1 mês. Cabulava muitas aulas e comecei a perceber que não tinha sido uma boa escolha. A partir daí, decidi me aprimorar como músico e o instrumento que escolhi foi o baixo (que já tocava no colegial). Fui fazer aula com o Celso Pixinga, que foi uma pessoa importante e por volta de 2001, meu tio Daniel Taubkin me chamou pra fazer parte do grupo dele que era formado por grandes músicos como o percussionista Guello, João Crystal, Emerson Villani e Gigante Brazil. O Gigante em especial, foi uma pessoa muito importante nesse inicio, principalmente pela generosidade. Daí em diante, comecei a tocar com o meu pai e com outros grandes professores. Essa foi a minha faculdade.
Você passou todo o ano de 2010 na maturação da ideia e na elaboração daquilo do molde que você buscava para o projeto. Ao longo desse tempo houve alguma mudança significativa na concepção do João Taubkin Trio?
JT - Quando você não está mais sozinho, as pessoas que estão no processo (Zeca e Bruno) passam a influenciar o trabalho. Isso é inevitável.
Como se cruzaram os caminhos do Bruno Tessele e do Zeca Loureiro com o teu?
JT - O curioso é que conheci ambos na oficina de musica de Curitiba em momentos diferentes no inicio do ano 2000. Na experiência dessa oficina, os alunos de todos os cursos se encontravam nos intervalos pra fazer um som. Foi assim que a gente se conheceu, já tocando.
Todas as faixas presentes neste projeto levam a sua assinatura. Todas elas foram concebidas para atender a este projeto ou já havia alguma engavetada que acabou encaixando-se a esta proposta?
JT - A maioria das músicas presentes no disco não foram feitas pensando na formação de trio. Quando o trio se formou, eu adaptei as músicas.
Certa vez em entrevista seu pai comentou que haveria dois tipos de música: uma que atende a expectativa do mundo e aquela que há dentro de você. O grande desafio seria conciliar essas duas realidades. Você quando compõe leva em consideração essas realidades e procura adequá-la do modo mais harmonioso possível ou não?
JT - Eu faço música sem pensar nessas questões. Ela nasce de uma expressão genuína. Se eu gostar, coloco ela no mundo.
Ser filho de um músico do gabarito do Benjamim facilita as coisas ou a responsabilidade só aumenta? Essa inevitável referência ao nome do seu pai o incomoda?
JT - A responsabilidade aumenta mas ao mesmo tempo, ser filho dele, me possibilitou estar em contato com a música e músicos da melhor qualidade. Essas experiências sempre me colocaram em situações de muita exigência, que foi muito bom pra mim. Nunca consegui um trabalho por ser filho dele mas as experiências que tive ao lado dele são inesquecíveis. A referência que as pessoas fazem em relação ao meu pai é inevitável, mas quando as pessoas conhecem a minha música fica claro que a minha identidade é outra.
Quais as suas maiores influências que você destacaria na concepção de sua sonoridade além do Benjamim?
JT - Minhas influências são diversas mas destaco como principais o Led Zeppelin e o Milton Nascimento. Esses sons mudaram a minha vida.
É possível perceber que sua música não faz concessão. Há ramificações sonoras diversas, por exemplo, neste seu primeiro álbum. Passar longe do conceitual é uma busca constante em sua sonoridade ou é algo espontâneo?
JT - A minha busca é pela identidade. Ela nasce como resultado das experiências que vivi ou inspirada por um filme, um show, uma viagem, uma pessoa, um lugar.
A música instrumental brasileira apesar de riquíssima e de grande sucesso junto a festivais no Brasil e no Exterior não tem o espaço devido nos grandes meios de comunicação. Você acredita que este tipo de cenário é reversível ou tornou-se algo crônico, uma vez que a desvalorização de nossos valores culturais é algo que está presente em nosso consciente coletivo já há muitos anos?
JT - É uma situação delicada pois o jabá é um sistema muito atrativo pra quem quer fazer dinheiro. Por exemplo, o artista paga pra rádio, a rádio toca a música infinitas vezes e com isso ele vende mais discos, mais shows e consegue continuar pagando esse jabá. É um sistema que se retroalimenta. Falo da rádio nesse exemplo, mas incluo todos os meios de comunicação. Daí cai na questão da educação. As pessoas são educadas por esses veículos. Esse sistema impossibilita a diversidade da informação. Quem não tem contato com uma cultura de qualidade tem o acesso muito mais restrito, pois esses veículos constrõem um muro de concreto na entrada do caminho que possibilitaria isso. Não acho que a música instrumental tenha que ser uma música das grandes massas, ao meu ver ela não tem esse perfil, mas o espaço que ela ocupa é muito pequeno, a fatia do bolo deveria ser mais generosa. Apesar disso, tem gente séria que divulga a boa música, com menos força que esses grandes veículos mas cumprem um papel muito importante.
Quais os projetos para este ano de 2015?
JT - Em 2014 o trio fez seu primeiro show fora do país, em um festival de música na Colômbia. Fora isso terei o prazer de participar de projetos de outros artistas. Sou muito feliz com o meu projeto, mas tenho muito prazer em fazer parte de outros trabalhos. Isso garante o meu sustento e me enriquece como ser humano. Amo o que faço! Eu vivo cada dia. Acho que isso afina o olhar para as coisas e abre um monte de possibilidades.