sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

“SABEDORIA” DE PARA-CHOQUE (1/2)

jarbas.wordpress.com
(Para descontrair)

Com a palavra nossos caminhoneiros

- A cal é virgem porque só lida com brocha.

- A calunia é como carvão: quando não queima, suja.

- Adoro as brasileiras, mas prefiro mesmo as thecas.

- A mata é virgem porque o vento é fresco.

- A melhor vacina contra a AIDS é a comida caseira.

- À noite todas as pardas são gatas.

- Antes dava um boi para não entrar numa briga, hoje brigo por um bife!

- Aqui é como o World Trade Center, só entra avião!

- A semelhança entre o entregador de pizza e o ginecologista 
é que os dois sentem o cheiro, mas não podem comer!

- As mulheres perdidas são as mais procuradas.

- A vida é um barato, o povo é que acha caro!

- Bebo para esquecer, só não me lembro de quê!

- Beijo não mata a fome, mas abre o apetite.


HORA DA VITROLA: GRANDES LETRISTAS - ALDIR BLANC





CORAÇÃO DO AGRESTE
Com Moacyr Luz
Intérprete: Fafá de Belém




Regressar é reunir dois lados
À dor do dia de partir
Com seus fios enredados
Na alegria de sentir
Que a velha mágoa
É moça temporã
Seu belo noivo é o amanhã
Eu voltei pra juntar pedaços
De tanta coisa que passei
Da infância abriu-se o laço
Nas mãos do homem que eu amei
O anzol dessa paixão me machucou
Hoje sou peixe
E sou meu próprio pescador
Rio, voltei no curso
Revi o meu percurso
Me perdi no leste
E a alma renasceu
Com flores de algodão
No coração do agreste
Quando eu morava aqui
Olhava o mar azul
No afã de ir e vir
Ah! Fiz de uma saudade
A felicidade pra voltar aqui



MICO PRETO
Com Moacyr Luz
Intérprete: Gilberto Gil




 
Eu nunca dei um jeitinho
Vim devagarinho, penando
Tentando acertar
Neguinho não me deu nada
A não ser porrada, sermão, passa fora
E eu lá
Tem parasita na ativa exportando divisa
E eu suando a camisa
Por honra da firma
A vida é assim:
Até minha gata dá pra todo mundo
Só não dá pra mim
Se um bacana me chuta
Eu peço desculpas e luto pra não complicar
Se me chamar de bagaço, agradeço, obrigado
Um abraço, isso aí! Até já!
Não tenho tempo pra sarro, o sapato furou
Acabou o cigarro, meu time perdeu
Guincharam meu carro, pisaram o meu calo
E até a comida o cachorro comeu

Mas sou brasileiro
Adoro esse coreto
É agora ou nunca
Já não tem talvez
Tão me dando gelo
Tirei o Mico Preto

Mas vem aí a minha vez!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

QUASE HISTÓRIAS: UM CONSOLO AOS MEUS COLEGAS DE PESO E DE CRUZ

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Ilustração: Depositdephotos


Sei que é triste namorar uma roupa por semanas, sonhar com ela acordado e, na hora H, não encontrar seu número. Há muitas peças disponíveis, claro, mas nelas você só entraria se lhe cortassem ao meio. Algo que nem rei Salomão pensaria em fazer, sábio que era. Bate, então, aquela revolta medonha. A vontade é torrar o dinheiro da roupa nova que você não terá em chope, sanduíche, chocolate, sorvete, enfim, em tudo aquilo que não é imoral nem ilegal, mas que engorda uma barbaridade. “Se tenho que ir à festa com a roupa velha, vou. Mas vou de barriga cheia”, diz você para você mesmo, antes de lambuzar a primeira batata frita de maionese, mostarda e molhos diversos.

Calma. Pense positivamente. Ora, se você nunca encontra seu número, é porque muita gente está tão gorda quanto você. A diferença é que alguns gordos dão sorte ou são mais espertos. Compram o tamanho SUPER GGGG antes que outros gordos cheguem à loja. Sei que tal raciocínio não resolve seu problema. Mas serve de consolo. Afinal, ninguém gosta de se ferrar sozinho. E de ilusão também se vive, dizem. 

***

Quer acabar com o efeito sanfona? É fácil: não emagreça. (Por Orlando Silveira - atualizado em novembro de 2018)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

E O AMOR SAIU PELA JANELA - CENA (S) XIII



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Ilustração: IStock


I

- Sonhei que estava fazendo amor com você...
- Jura? E aí?
- Acordei suada, amedrontada. Um horror.

II
- Seu ronco é insuportável.
- Eu sei. Em compensação, só solto “pum” no banheiro.

III

- Se eu soubesse que você ficaria desse tamanho, juro, teria dito “não” ao padre.

IV
- Como estou?
- Parecendo árvore de Natal.

V

- Querido: se é verdade que você só me trai em pensamentos, me faça um favor: reze em casa. Vamos economizar muito dinheiro (da gasolina, do estacionamento, do pastor). Se agir assim, terá desde já meu profundo perdão.



sábado, 1 de dezembro de 2018

E O AMOR SAIU PELA JANELA - CENA XII

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É bem possível que os amigos não se lembrem da história. De histórias tristes procuramos nos esquecer. Também ninguém é obrigado a ler tudo o que sai nas redes sociais, sites e blogs. Eu mesmo, não raro, nem me lembro do que escrevi ontem. Nestes dias, a mulher de décadas, sorvendo sorvetes, diz que a culpa é do destilado. Discussão sem fim. Inútil.


O fato é que a vida conjugal de Vicente e Fátima virou bagunça sem fim. É pena, são tão queridos. Mas daquele mato não sai mais coelho. Eis a verdade: aquele casamento de quase trinta anos está com os dias contados. Disso ninguém duvida. Nem os filhos – tietes da mãe. Como sempre acontece nas melhores e piores famílias.

Vicente é dono de boteco. Fátima, além de esposa, quituteira de mão cheia. Fátima ingressou em uma religião dos últimos tempos e passou a implicar com todos os fregueses que entornam uca e jogam bilhar. Vicente foi à loucura. “Você quer acabar com nosso sustento, demônio” dizia ele, verificador da clientela minguante e das despesas crescentes. Não sei se sabem: o dízimo, às vezes, custa aos incautos os olhos da cara. Melhor morrer pagão.

Foram meses de peleja. Fátima se reconverteu. Caiu em si. Voltou a vender pinga com alegria inaudita. Não há bispo e bispa que enganem todos por todo o tempo. A prosperidade deles se dá por uma simples razão: sempre vêm outros fiéis. Tolos abundam, como se sabe.

Um dia, quase de repente, um clarão iluminou a mente de Fátima. Era como se um anjo lhe dissesse: “Fátima: bebe, fuma e joga bilhar quem quer. De salvadores da pátria o mundo está cheio. E seu bispo, vagabundo, oportunista, que se ferre. Cuide de seu negócio.”

Vicente tinha tudo pra voltar a sorrir. Qual o quê! A cantilena sem trégua de Fátima lhe calou fundo na alma: Vicente aderira à seita. E hoje quem impreca contra a uca e o jogo é ele. Desespero de Fátima: “Ele quer acabar com nosso negócio. Ainda me desgarro desse homem”.

(Orlando Silveira – atualizado em novembro de 2018)


SOBRE POLÍTICOS E QUENGAS

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O Velho Marinheiro estava visivelmente irritado naquele começo de noite. E sempre que isso acontece quem paga a conta salgada é o dedão esquerdo, já que nosso Lobo do Mar se põe a caçar sem tréguas o bicho de pé imaginário. Para quem o conhece, não era difícil imaginar as razões de sua irritação – ela começava com a gritaria dos fregueses do bar do Carneiro e terminava com o tema das conversas: reforma política.

-- Vou lhe dizer uma coisa, Ananias: sou homem curtido, do mar, de cais do porto, convivi com gente boa e com a escória. Nunca vi gente tão besta assim – disse ao amigo e jornalista em fim de carreira, apontando para a turma que, entre um gole e uma tacada no bilhar, apontava “soluções” para acabar com a corrupção na política. Essa gente não fala, berra. E só fala besteira. Bando de analfabetos barulhentos.

-- Concordo. Essa zoada perturba a gente, não se pode conversar em paz. Mas gostei de ouvir um e outro defendendo o financiamento público de campanha. O senhor não acha que, se não acabar com a corrupção, ele contribuirá para inibi-la?

-- “Ele” quem, Ananias?

-- Ora, Velho Marinheiro, o financiamento público de campanha.

-- E você acha que essa gente sabe o que é isso? Você está ficando cada vez mais abestalhado, Ananias. O passar dos anos e a uca estão lhe fazendo mal. Com uma porcaria dessas, eles vão tirar ainda mais dinheiro do povo. Quem lhe garante que o tal do caixa dois vai acabar?

-- Todo mundo sabe que a corrupção começa na campanha eleitoral, com as doações das grandes empresas, das empreiteiras, dos bancos. Ninguém dá nada para ninguém, sem esperar a recompensa...

-- Não seja ingênuo, Ananias, você já está saindo da idade madura para entrar no pior dos mundos, que é a velhice, falo por experiência própria. Você acha que empresas pagam aos políticos apenas uma vez, na campanha eleitoral, e que, depois, por gratos, eles aprovarão de "graça" tudo o que for de interesse delas, ao longo dos quatro anos de mandato?

-- É que...

-- Deixe de ser tolo. Político é quenga. Toda vez que alguém precisa de seus préstimos tem que lhes pagar. Acertos passados não movem moinhos. E o preço, meu caro, varia conforme o tipo de serviço. Entendeu?

-- Não tinha pensado nisso.

-- Então, pense: Ananias.   

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

AS PERERECAS DO MIRANDA

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De segunda a sexta-feira, das 8 horas ao meio-dia, dezenas de pessoas dirigem-se ao consultório do “doutor” Edson – o dentista mais frequentado da Vila Invernada e região. As filas não chegam a dobrar o quarteirão, mas ocupam ao menos metade dele. Tamanha movimentação contrasta com a aparência do doutor e com a de seu consultório – ambas desleixadas, para falar o mínimo.


Morador recente da Vila Invernada, cuja casa fica em frente ao consultório, Miranda também se indignava com a rapidez do atendimento. O paciente não esquentava cadeira. Segundo seus cálculos, o doutor não gastava mais de dez minutos com cada um. O que o levou a concluir que estava ante um profissional de rara competência. Até porque todos, sem exceção, saiam dali com cara de alívio, sorriso estampado no rosto, sem sinal de dor.

Certo dia, Miranda foi ao bar do Carneiro tomar café e comprar cigarros:

-- Seu Carneiro: preciso de uma informação. Necessito fazer um tratamento dentário. É coisa pouca. Na verdade, quero trocar as dentaduras, porque estas já deram o que tinham que dar. Estou impressionado com quantidade de pacientes do doutor Edson. Mais ainda com a rapidez com que ele soluciona os problemas dos clientes. Ele é careiro?

Carneiro esquivou-se, como convém aos velhos comerciantes:   

-- Não sei lhe dizer, nunca me tratei com ele.

Sentado com Ananias – seu companheiro de copo e de prosa – à mesa perto do balcão, o Velho Marinheiro não se conteve:

-- Não sou homem de me intrometer na conversa dos outros. Mas não posso me calar ante um caso como o seu. Trata-se de uma questão humanitária, de saúde. Já vi que o senhor se mudou há pouco para cá. Onde esse tal de “doutor” Edson comprou o diploma – se é que ele tem mesmo o canudo – ninguém sabe.

-- Então, ele é um charlatão? – quis saber o morador novato.

-- Ponha charlatão nisso. Ele vive – e está rico – é de vender atestado médico. Pela quantidade de pessoas que ali comparecem, diariamente, o senhor conclui que, no país, os vagabundos abundam. Às vezes, ele arranca um dente ou outro dos incautos. Tolos não nos faltam. Mas, quando ele extrai um dente, a hemorragia é certa. Melhor o senhor ficar com suas pererecas arruinadas ou arrumar outro dentista. 

(Orlando Silveira -  atualizado em novembro de 2018)  

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

FOTOGRAFIAS: ERIC KIM



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Foto: Eric Kim



Foto: Eric Kim



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Foto: Eric Kim



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Eric Kim (1954) é um fotógrafo coreano (ele reside em Berkeley, Califórnia) que faz fotografia de rua e é um disseminador e educador on-line deste tipo de arte.

QUASE HISTÓRIAS: CHAME OS SILVA


Edileuza passou a tarde disparando telefonemas e mensagens. Em vão. Já eram quase 18 horas, e nada, ninguém estava disponível para jantar em sua casa e, evidentemente, ouvir suas histórias sobre a última viagem a Paris - motivo principal do convite -, e sobre a compra do carro zero importado. Verdade ou não, todo mundo já tinha compromisso na sexta, sábado e domingo. Semana que vem? Quem sabe, talvez. Nada fechado.

Vendo a impaciência da mulher, impaciência que beirava o ataque de nervos, Alceu lhe deu uma sugestão:

-- Ligue para os Silva. Eles sempre estão disponíveis, não perdem uma boca livre e ouvem tudo com a mais absoluta reverência. Eles sempre se encantam com suas histórias.  Ou fingem bem. O que dá na mesma. Diga a eles que vamos ter camarão.

-- Você é um gênio, Alceu. Estou ligando. Mas, para eles, pizza está de bom tamanho.


 TONTURAS

-- Doutor: não ando nada bem. Sinto muitas tonturas. Principalmente, quando me levanto da cadeira. Parece que o chão está fugindo dos meus pés. 

-- Vou lhe pedir uma série de exames para fazer o diagnóstico correto. Com que frequência as tonturas ocorrem?

-- Sempre que bebo além da conta. 

(Orlando Silveira - Atualizado em novembro de 2018)

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O FÍGADO É PÉSSIMO CONSELHEIRO

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Afinal, se os dois fossem tão ruins assim, o casamento não teria durado tanto. Lesos eles não eram. Como negar que, ao longo do tempo, desfrutaram de muitos e bons momentos? Familiares, amigos e vizinhos poderiam atestar isso –, muito embora os vizinhos, amigos e familiares prefiram, ainda que inconscientemente, reter na memória e na língua os piores momentos da vida alheia. Por Orlando Silveira


https://orlandosilveira1956.blogspot.com/2018/11/quase-historias-o-figado-e-pessimo.html#comment-form

terça-feira, 27 de novembro de 2018

FOTOGRAFIAS: MANNY LIBRODO

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Manny  Librodo é um fotógrafo filipino (31 de dezembro de 1964) 
que alcançou fama mundial com seu estilo particular
 em fotografia retrato retoque digital.

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IMAGENS: PICASSO X MODIGLIANI: "BRIGA DE FOICE"

A tela 'Nu couché', de Amedeo Modigliani, considerada uma das obras maiores do mestre, foi vendida na noite desta segunda-feira (9), em um leilão em Nova York, por US$ 170,4 milhões, um recorde para o pintor italiano (Foto: Courtesy of Christie's Images via AP)

MODIGLIANI QUASE “ATROPELA” PICASSO




A tela NU DEITADO (no alto), de Amedeo Modigliani, foi arrematada em novembro de 2015, em Nova York, por 170,4 milhões de dólares – o equivalente a 158,3 milhões de euros. O recorde daquele ano, no entanto, foi de Pablo Picasso, cujo quadro LES FEMMES D´ALGER (acima) foi comprado em maio por 159,3 milhões de euros. (OS)

QUASE HISTÓRIAS: O FÍGADO É PÉSSIMO CONSELHEIRO

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Foto: Arquivo Google

Foi uma bonita história de amor. Claro, houve momentos ruins – momentos de tensão, tédio, agressões verbais e de tudo mais que, cedo ou tarde, passam a fazer parte de qualquer relacionamento longevo. Lua de mel não dura para sempre. Quem diz o contrário mente. Ou nunca conviveu com um (a) companheiro (a) por muito tempo. O desgaste é inevitável. 

Após duas décadas de relacionamento, Joana estava para lá de farta dos defeitos e vícios de Alceu, que, a bem da verdade, não eram poucos. Alceu, por sua vez, já não tolerava mais as manias de Joana (vícios ela nunca teve) nem aquela sua presunção de estar sempre com razão, independentemente do tema em discussão. As rusgas viraram bola de neve. Tudo era motivo para alterações.

Um dia, após meia dúzia de discussões pesadas, Joana recolheu suas coisas, fez as malas e se mandou para a casa de um dos filhos. Deixou Alceu a ver restos de navios – navios que ela queimara para não cair na tentação de voltar atrás. Sim, porque antes de picar a mula, movida sabe-se lá por quais sentimentos, Joana fez questão de espalhar para a família, amigos e vizinhos os vícios e defeitos de Alceu. Ora, quem conta um conto sabe-se... Os vícios e defeitos de Alceu, que já não eram parcos, tornaram-se enormes.

Alceu não deixou por menos. Queimou todas as pontes que estavam ao seu alcance. Falou mal de Joana para fulano, beltrano, sicrano e para todos os que se dispusessem a ouvi-lo. Segundo ele, era a única forma de se defender das calúnias, difamações e da ira da ex-mulher.

Ambos, no fundo, sabiam que haviam exagerado nas críticas, que tinham raciocinado com o fígado. Afinal, se os dois fossem tão ruins assim, o casamento não teria durado tanto. Lesos eles não eram. Como negar que, ao longo do tempo, desfrutaram de muitos e bons momentos? Familiares, amigos e vizinhos poderiam atestar isso –, muito embora os vizinhos, amigos e familiares prefiram, ainda que inconscientemente, reter na memória e na língua os piores momentos da vida alheia.

Com o passar do tempo, Joana e Alceu, cada qual no seu canto, passaram a se corresponder diariamente, via WhatsApp. Falavam de amenidades, dos filhos, dos netos, do cachorrinho traquinas que a nora tratava como se fosse criança de colo. Às vezes, Joana e Alceu ensaiavam falar do que, de fato, importava. Não iam além de insinuações. O fato é que Joana ainda gosta de Alceu. A recíproca é verdadeira. Mas como voltar, se cada um a seu modo – ela queimando navios, ele destruindo pontes – fez estrago medonho na imagem do outro? O que dirão os familiares, amigos e vizinhos? No mínimo, que os dois não têm vergonha na cara. Joana e Alceu seguem infelizes. Cada qual no seu quadrado. Mas com vergonha na cara.

Orlando Silveira
Atualizado em novembro de 2018


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Sou de um tempo em que, um mês antes de casório, noivo e noiva – e suas respectivas mães, evidentemente, porque aonde uma sogra vai a outra vai atrás – eram obrigados a esperar os convidados, para receber presentes e lhes mostrar o ninho dos pombinhos. Em geral, o expediente era de segunda a segunda. Nos finais de semana, a jornada era dupla. Caceteação sem fim. Peguei nojo de vermute e amendoim, que eram o que dava pra servir.   Por Orlando Silveira
https://orlandosilveira1956.blogspot.com/2018/11/quase-historias-afinal-cade-os-criados.html#comment-form

IMAGENS: BOTERO (AS DORES DA COLÔMBIA)



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ARQUIVO GOOGLE

“Dores da Colômbia” reúne 67 obras de Fernando Botero, doadas pelo artista ao Museu Nacional da Colômbia, entre 2004 e 2005. Elas retratam a violência protagonizada pelas Farc e pelo narcotráfico. Sobre a doação, Botero declarou à época: “Não vou fazer negócio com a dor do meu país.” Em 2012, a exposição percorreu museus de Brasília, Curitiba, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.