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Robertinho nunca foi homem de perder tempo com reflexões. Tecer planos, traçar estratégias? Nem pensar.
Impulsivo, ansioso ao extremo, tocava a vida de primeira. Para ele, era como se o mundo fosse acabar nos próximos dias. Tropeçava, ensaiava um chororô, mas logo sacudia a poeira e, se não dava a volta por cima, tratava de pegar os remos e tocar o barco. Afinal, contas a pagar são impacientes, não perdoam atrasos. Se a vida não é nada fácil, imagine com a sobrecarga de juros e correção monetária?
Apesar
dos percalços, Robertinho era uma espécie de arroz de festa. Sempre (ou quase
sempre) tinha “causos” divertidos para contar – o que acabava dando a ele o
status de “cara legal”, de palhaço das horas felizes. Mal sabiam que, no íntimo,
era um sujeito entristecido a representar um papel que se impusera. Mau ator? Bom ator?
Sem
se dar conta, isolou-se. Queimava horas pensando coisas ruins: nos tombos que
levara, nas pequenas, médias e grandes traições de uns poucos supostos amigos,
nas sacanagens de alguns chefes e subchefes, na falta de apoio para que pudesse
realizar seus planos etc.
Sem
se dar conta, Robertinho transformou-se num chato absoluto. Passou, ainda que
inconscientemente, a atribuir aos outros o motivo principal de suas frustrações.
Não raro, em geral após a terceira talagada, virava refém de uma ira nada
santa, mas súbita. E desandava a falar impropérios nos quais nem ele via
sentido.
Numa
madrugada, meio que do nada (Robertinho, insisto, nunca foi dado a reflexões), veio o
estalo: ora, as pessoas só fazem conosco o que lhe permitimos que elas façam. Logo, se
há culpados por isso ou por aquilo, os culpados somos nós. Se, por uma razão ou
por outra, não tínhamos alternativa a não ser aceitar as cartas marcadas, leite
derramado, nada a fazer. Somos o que deu para ser.
Robertinho
não deu a volta por cima, mas voltou a remar. Agora, sem tanto peso na alma. Água que rola, vida que segue. Melhor assim. (OS - Atualizado em dezembro de 2019)
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