Ilustração: arquivo Google
Argemiro nunca foi aluno brilhante. Do antigo primário à faculdade,
o máximo que conseguiu foi assegurar, quando muito, uma vaga no grupo dos que não
cheiram nem fedem. Ou seja: um lugar no pelotão dos medíocres. Ele também nunca
se destacou pela capacidade profissional. Não obstante, conseguiu subir na vida,
como diz o vulgo. Agradecido, reconhecia que devia muito de sua ascensão ao velho
e falecido pai, um ex-comunista metido a estrategista de botequim.
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Desde cedo, o pai lhe ensinou algumas coisas, entre as quais:
(1) Nunca emitir opiniões sobre assuntos polêmicos: política, religião e
futebol, por exemplo. Que benefício lhe traria se posicionar sobre aborto, casamento
gay, liberação da maconha e temas afins? Nenhum, evidentemente.
(2) Agora, na impossibilidade de permanecer calado, concordar sempre com
a opinião do mais forte. Afinal, um comuna legítimo sabe que é preciso beijar a
mão que não pode cortar.
(3) Que jamais se preocupasse em ser rotulado de Maria vai com as
outras. O que importa é desfrutar de bom dinheiro para levar vida confortável e
garantir uma velhice sem grandes sobressaltos.
E assim foi feito. Argemiro engoliu sapos e mais sapos, muitos dos
quais amarrados com arame farpado. Paciência. Como o velho e sábio pai lhe
dizia: “Ter opiniões incisivas sobre tudo é coisa só para gente bem-nascida.
Sufoque o ser para ser.” Quanta sabedoria!
Aposentado e viúvo, com os dois filhos morando no exterior, Argemiro
gosta de acompanhar o noticiário. Diante de assuntos polêmicos e discussões
mais acaloradas, nunca sabe de que lado está. Afinal, não há mais ao seu lado um
poderoso com quem possa concordar. Mas, pensando bem, que importância tem isso?
(OS - Atualizado em DEZEMBRO de 2019)
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