Não fui bom pai.
A caçula já me escreveu isso com todas as
letras: “Pai, você não foi de todo ruim”.
Só pensava em trabalhar, contas a pagar, sabem como é.
Inferno, vida de pai e mãe. Gostoso é ser
avô de Dudu, primeiro e único, por enquanto. Gabriel vem aí, final de março. Mais um amor para amar. Quando Dudu me
abraça, piro. Filhos nem sempre obedeçam aos pais. Peço a eles: façam filhos, preciso de netos.Eles vão me redimir, dar sentido à velhice. Melhor idade é a puta que o pariu.
Fui o possível. Ser possível é pouco, quase
nada. Foi o que deu para ser: quase nada.
Meus filhos, por benção de Deus, deram
certo.
Gosto da minha mesa de computador quase
caindo. Fora dela não escrevo. Gosto de meu teclado antigo, que maltrato feito
uma velha Olivetti. Sou velho. Minhas mãos descascaram de tanto limpar livros,
muitos herança do maior homem que eu conheci: meu pai.
Aos poucos, minha casa toma corpo, toma
rumo. Já não posso dizer o mesmo do novo inquilino, eu. Falta uma planta aqui,
um pé de rosa acolá. Mas tenho tudo de que preciso. Continuo apaixonado por
minha vizinha. Nunca passeamos tanto. Ela mora na casa nove; eu, na casa cinco;
Dudu, na vinte e quatro. Nunca fomos tão amigos e felizes. Minha vizinha é ela,
amor de quarenta anos. E tantos.
Querer mais para quê? (OS)
Adorei! Tento ler nas entrelinhas...perdi o faro. acho que vc se tornou velho propositadamente. Aquela ranzinzice que se auto-explica, precisava chegar e justificar algumas coisas.Risos . Vc até que ficou um velho legal. Como diria sua filha, não ficou de todo ruim!
ResponderExcluirPois é. A gente, por mais que se esforce, não vai muito além do óbvio: do que deu para ser.
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