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Há certas coisas que a gente fala, mas que não deveria falar. Diz
por dizer, porque naquela hora, não tem prosa melhor. Não que elas, as coisas
ditas, sejam erradas. Elas são inúteis, isto sim. Ninguém muda ninguém. Eu, por
exemplo, não me fio muito nessa história de que “água mole em pedra dura tanto
bate até que fura”. Melhor economizar a água e comprar uma furadeira. Sai mais
barato. É mais rápido e, ecologicamente, correto. Não se corre o risco de
aporrinhar os outros com a mesma cantilena de sempre.
De nada adianta, por exemplo, você chegar para aquele seu amigo de
copo e de cruz, como canta Chico Buarque, e lhe dizer com sabedoria acaciana:
“Controle o cigarro, dê um tempo na bebida. Você está tomando demais, fumando
muito. Já não tem mais idade para isso, não. Outra coisa: você está dando muita
bandeira. Esse negócio de não tirar os olhos das nádegas da Deolinda vai acabar
em tragédia. O marido dela é forte e valentão. E anda armado! E não costuma
errar o alvo!”
Não adianta mesmo dizer aquilo tudo para seu amigo, porque ele já
sabe que fuma e bebe demais, que beber e fumar demais faz mal à saúde (o
ministério da Saúde, pelo visto, só existe pra isso mesmo: para nos alertar),
que as nádegas da Deolinda são fantásticas e que, azar dos azares, o marido dela
tem gênio de cão raivoso. Ele já sabe de tudo isso. E sabe mais: ele sabe que
você também toma umas & outras, fuma sem descontinuar, é fissurado no
balançar das ancas da Deolinda. Aliás, vocês se encontram todos os dias, no
bar, justamente para jogar conversa fora, tomar uns tragos, admirar as nádegas
da Deolinda etc. Ou não?
Também de nada adianta tentar consolar os inconsoláveis com o
tradicional “se Deus quiser”. E se Ele não quiser, como é que fica? Só nos
resta rezar. E, no caso de vocês, rezar muito. Para que pulmões e fígados
suportem o baque. Mas, acima de tudo, para que o marido de Deolinda jamais
perceba suas oníricas intenções. Ou que, na pior das hipóteses, em percebendo,
erre o alvo. (OS - Atualizado em novembro de 2019)
É sempre gratificante ler suas crônicas onde a magia abundante apresenta-se a cada parágrafo.
ResponderExcluirFalou e disse, meu caro Orlando! A sabedoria popular já diz e faz tempo que "se conselho fosse bom, não se dava, vendia". E nos velhos tempos em que escrevinhador frequentava velórios, sempre ouvia aqueles tradicionais elogios ao "de cujus"! "- Morreu, mas graças a Deus, tinha uma saúde de ferro"!
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