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Não
há quem não conheça Josué Lemos na Vila Invernada, bairro pobre da zona Leste
de São Paulo, local em que nasceu, criou-se e entrou na pior idade. A vida dura
o obrigou a se virar nos trinta, seja lá o que isso queira dizer. Ele é uma
espécie de “faz tudo”, pau pra toda obra. Ergue e pinta paredes, enche laje,
desentope canos, troca fiação, remenda calçadas e muros, cata lata, vende
papelão, faz carreto na feira.
Para
Josué, não há tempo ruim. Gaba-se de estar a serviço da “comunidade” 24 horas
por dia, de segunda a segunda, incluindo feriados. Só não trabalha na
sexta-feira da Paixão. E o que é melhor – para os clientes, claro: é barateiro.
Sobe no telhado por qualquer bagatela, apara grama de quintal e trepadeira de
muros por duas pingas e uma cerveja. Nunca reclama do que lhe pagam: “Eu
preciso de pouco pra viver”.
Josué
só não gosta muito de fazer serviços na casa do Velho Marinheiro, nosso Lobo do
Mar:
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Ele é exigente demais, põe reparo em tudo, difícil agradar aquele homem. Quando
começa a caçar o bicho do pé, então, me deixa nervoso, sei que a bronca é
certa. Só vou lá por causa de dona Mafalda, um doce de criatura.
Sejamos
justos: que o Velho Marinheiro tem gênio ruim, todo mundo sabe; mas não é o
único a reclamar de Josué. Ao contrário. É raro encontrar alguém que elogie os
serviços que faz. Afinal, ninguém pode ser bom em tudo, não é? Por que o
contratam, afinal? Porque é boa praça, está sempre disponível, não bebe durante
o expediente, é barateiro e de confiança, ao contrário da maioria de seus
concorrentes, cujos serviços, em termos de qualidade, igualam-se aos seus.
Josué
sabe disso.
Quando
alguém reclama disso ou daquilo, dispara seu bordão predileto: “Eu sou Josué
Lemos. Não sou o melhor. Mas sou o que temos”.
(OS 2013 - atualizado em novembro de 2019)
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