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Ilustração: iStock |
Um
dos pequenos, tão logo viu o pai abrir a porta com um pacote na mão esquerda,
começou a berrar de satisfação:
--
Mãe, o pai arrumou emprego, o pai arrumou emprego, vem ver, mãe, ele comprou
maçã pra nós!
Os
irmãos engrossaram, com igual entusiasmo, a gritaria do precipitado. E avançaram
sobre o pacote com as frutas.
Ao
ver a cara amarrotada de Toninho, Odete, de imediato, teve certeza de que a
história não era bem aquela. Conhecia o marido como ninguém. Mas nada falou além
de “oi”. Lavou as maçãs em silêncio, deu uma para cada filho, esperou que os
três voltassem a brincar no quintal. Então, puxou conversa:
--
Conseguiu alguma coisa?
--
Nada, Odete. Ainda não foi dessa vez.
--
Calma, Toninho. Uma hora vai dar certo.
--
Deus te ouça. Não sei como vamos pagar o próximo aluguel.
--
Meu pai e meu irmão ficaram de nos ajudar. Fome – tenho fé – não vamos passar,
não. Mas beber não ajuda em nada, homem, só faz piorar o que está ruim.
--
Eu sei. É que eu preciso dormir essa noite.
Em
busca de outra maçã, um dos meninos retornou à cozinha e perguntou pelo pai.
--
Foi dormir.
--
O pai é gozado. Arrumou emprego e continua de cara feia.
--
Liga não, filho. Você não conhece seu pai? Está tudo bem. Brinquem mais um pouquinho,
depois vamos tomar banho, jantar e dormir.
-- Tá bom, mãe. Fala pra ele trazer mais maçãs, amanhã.
(OS - ATUALIZADO EM NOVEMBRO DE 2019)