FOTO: ARQUIVO GOOGLE |
Diariamente,
de segunda à sexta-feira, por volta das 18h, ele marcava ponto na padaria do
Narciso. Sempre bem vestido, chegava sorridente, acenava para uns e outros. Mas
não puxava conversa com ninguém. O pessoal da copa, mais por educação que por
dúvida, lhe perguntava se queria o mesmo de sempre. Claro que sim: duas doses
de vodka e duas latinhas de cerveja. Um homem, quatro copos. Às vezes, pedia um
pedaço de pizza de mussarela, cortada na forma de tira-gosto. Espetava dois
palitos, que ele usava de forma alternada, a exemplo do que fazia com os copos.
Não era homem de esquentar cadeira. Nem poderia. Nunca o vi sentado nos bancos.
Preferia ficar de pé, invariavelmente no mesmo canto do balcão.
Cumprido
o ritual, pagava a conta, dava boa gorjeta para os copeiros, acenava
para os conhecidos e embarcava no carro. Sempre com a discrição das pessoas bem
educadas.
Levei
uns dias, talvez semanas, para perceber os detalhes do ritual: um homem, quatro
copos, dois palitos, um pedaço de pizza. De segunda à sexta, sempre no mesmo
horário, por volta das 18horas.
Uma
noite, meio por acaso, soube por Sales, um dos copeiros, que ele vinha com o
pai – homem igualmente discreto e elegante – diariamente à padaria. Pediam duas
doses de vodka, duas latinhas de cerveja e um pedaço de pizza, sempre do mesmo
sabor: mussarela. O pai morreu há cerca de três anos. Mas não para o filho. (OS/MARÇO DE 2017)
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