quarta-feira, 16 de outubro de 2019

LUVAS PRA QUÊ?



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O Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar, entrou sala adentro pisando duro, soltando fogo pelas fuças, imprecando contra Deus, o diabo e a terra do sol. Não falou com ninguém. Nem com Mafalda, sua mulher. Foi direto para o quartinho no fundo do quintal, onde guardava suas tralhas. E por lá ficou bom tempo, revirando caixas e recortes de jornais, esbravejando.

-- O que será que vovô tem? – quis saber Irene, sua neta predileta. Vou lá ver.

-- Não vá. Quando ele fica assim, melhor não chegar perto – aconselhou Mafalda. A raiva dele logo passa. Estou acostumada.

Meia hora depois, já mais calmo, nosso enfrentador de ondas e caçador de bicho de pé inexistente, retornou à sala. E sem que, por prudência, ninguém lhe perguntasse nada, foi direto ao assunto:

-- Não me comprem mais nada na padaria da esquina – ordenou. Aquilo é uma imundície só.

-- Que barbaridade, meu velho. A padaria é tão bonita, chique mesmo; os funcionários estão sempre de uniforme limpo, redinha na cabeça e luvas nas mãos...

-- E de que vale tudo isso? Agorinha mesmo, flagrei o rapaz que faz lanches coçando com vigor as partes baixas. Com a mão e a luva por dentro das calças! Rejeitei o lanche, lhe disse poucas e boas, tive vontade de lhe cortar o "instrumento". Se eles fazem isso na frente do cliente, imagine o que não fazem os padeiros pelas costas dos fregueses. Haja furico. Ali, não piso mais. (OS - agosto/2013, atualizado em outubro de 2019)



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