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Ananias, diga “não”, e pronto. Não perca tempo com falsas explicações, com
mentirinhas nas quais ninguém acredita: “Minha mulher e eu fizemos um pacto: se
eu assinar, ela não assina, e vice-versa”. O sujeito vai lá, conversa com sua
patroa, amolece o coração dela e você fica sem saída. Acaba por assinar a
papelada. Ser fiador? Nunca mais.
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É que o rapaz, Velho Marinheiro, é meu amigo de longa data...
--
Fie-se nisso. Ele pode até ser honesto, mas depois de amanhã perde o
emprego, vira a cabeça, sei lá. E quem terá que pagar o aluguel dele? Ora,
você quer perder sua casa ou o pouco que tem na poupança? O sujeito que vá ao
banco e pague um seguro fiança.
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O senhor tem razão, mas é que...
--
Não quero ter razão, Ananias. Não quero que você se estrepe outra vez na vida.
Já sei. Não tem coragem. Vou lá com você. Aproveito a ocasião e aviso o homem: “Ananias
e sua patroa também não batizam mais ninguém”.
-- Como o senhor sabe que ele me convidou para batizar o filho?
--
Ananias: a desgraça nunca anda só, está sempre com más companhias.
--
O senhor se recusa a batizar uma criança?
-- Não recuso nem batizo. Não sou padre. Eu me recuso é ser padrinho. Tenho vários
afilhados. Todos eles só vieram à minha casa para pedir isso e aquilo. Anos
atrás, um compadre, depois da cerimônia religiosa e do almoço (que Mafalda e eu
pagamos), me sai com essa: “Agora, posso morrer em paz. Minha filhinha tem um segundo
pai e uma segunda mãe, está em boas mãos.” Vá se catar! Que cada um cuide dos seus.
--
E como o senhor faz para se livrar do convite?
--
Ananias: no começo, eu dizia “não quero” e ponto final. Mafalda insistia para
que eu não fosse tão direto, grosseiro. Passei a adotar uma estratégia. Se os pais
são católicos, digo que somos evangélicos. Se eles são evangélicos, digo que
não saímos do terreiro...
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Mas, afinal, do ponto de vista religioso, o que o senhor é?
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Filho de Deus. Apesar de agnóstico. (OS - 2014 - atualizado em outubro de 2019)
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