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Meus medos são muitos. Nenhum deles, porém, supera o que tenho de
gatos. Não posso ver um deles. Surto. A recíproca é verdadeira. Quando me avista,
o bichano se eriça e se põe em posição de ataque. Fiz novenas e mais novenas
para São Judas Tadeu – o santo das causas impossíveis. Em vão. A paúra só fez
crescer, piora muito a cada estação. Quando me deparo com um felino doméstico,
apelo logo para Santo Expedito: “Querido, me tire daqui, agora!” Nem sempre –
quase nunca seria a expressão mais precisa – consigo dar o passo. Peço ao Todo
Poderoso, então, um infarto fulminante. Não fui atendido, ao menos até
agora.
Esse pavor por gatos me fez perder oportunidades, além de dar vexames sexuais.
No auge da virilidade – vinte e poucos anos –, fui ao apartamento de uma colega
de faculdade, verdadeira loba, sonho de consumo de qualquer garanhão imberbe. Não
consegui ir além de um selinho muito vagabundo. Ela tinha um gato na sala. Foi
minha primeira broxada. Tempos depois, quase encerrei o noivado com Sabiá por conta de um
gato. Meu cunhado, então um demônio em forma de guri, aproveitou um vacilo meu e
jogou no meu colo um filhote. Melhor andar desarmado.
Não sei por que gatos não gostam de mim. Nunca atirei o pau (nem
pedra) em gato. Nunca chutei gato. Nunca dei tiro de chumbinho em gato. Nem
xingar gato xinguei.
Dona Neide, minha mãe, me falava (saudades dela) que, por três vezes, me levou
para tomar injeções na barriga contra raiva, por conta de arranhadas que sofri de
gato de rua. Eram quinze injeções, a cada rodada preventiva. Verdadeira
tortura. No bonde, ela me dizia: “Se você se comportar, não falar palavrões, mamãe
lhe compra um doce”. Barganha inútil. Voltava sem doce. Em casa, levava tapas
na bunda: “Bem feito, bem feito. Quem mandou você, moleque boca suja, dizer
tantos palavrões? Da próxima vez que você mexer com gato de rua, vai ver o
que é bom pra tosse.”
Infância triste, a minha. (OS - abril/2016, atualizado em setembro de 2018)
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