FOTO: ARQUIVO GOOGLE |
BEBADOSAMBA
De Paulinho da
Viola
Um mestre do verso, de olhar destemido,
disse uma vez, com certa ironia :
"Se lágrima fosse de pedra
eu choraria"
Mas eu, Boca, como semrpe perdido
Bêbado de sambas e tantos sonhos
Choro a lágrima comum,
Que todos choram
Embora não tenha, nessas horas,
Saudade do passado, remorso
Ou mágoas menores
Meu choro, Boca,
Dolente, por questão de estilo,
É chula quase raiada
Solo espontâneo e rude
De um samba nunca terminado
Um rio de murmúrios da memória
De meus olhos, e quando aflora
Serve, antes de tudo,
Para aliviar o peso das palavras
Que ninguém é de pedra
Bebadosamba, bebadosamba
Bebadosamba, bebadosamba
Meu bem
Bebadosamba, bebadosamba
Bebadosamba, bebadosamba
Bebadosamba, bebadachama
Também
Boca negra e rosa
Debochada e torta
Riso de cabrocha
Generosa
Beijo de paixão
Coração partido
Verso de improviso
Beba do martírio
Desta vida
Pelo coração
Bebadachama (chamamento)
Chama que o samba semeia
A luz de sua chama
A paixão vertendo ondas
Velhos mantras de aruanda
Chama por Cartola, chama
Por Candeia
Chama Paulo da Portela, chama,
Ventura, João da Gente e Claudionor
Chama por mano Heitor, chama
Ismael, Noel e Sinhô
Chama Pixinguinha, chama,
Donga e João da Baiana
Chama por Nonô
Chama Cyro Monteiro
Wilson e Geraldo Pereira
Monsueto, Zé com fome e Padeirinho
Chama Nelson Cavaquinho
Chama Ataulfo
Chama por Bide e Marçal
Chama, chama, chama
Buci, Raul e Arnô Cabegal
Chama por mestre Marçal
Silas, Osório e Aniceto
Chama mano Décio
Chama meu compadre Mauro Duarte
Jorge Mexeu e Geraldo Babão
Chama Alvaiade, Manacéa
E Chico Santana
E outros irmãos de samba
Chama, chama, chama
Bebadosamba, bebadosamba
Bebadosamba, bebadosamba
Meu bem
Bebadosamba, bebadosamba
Bebadosamba, bebadosamba
Bebadosamba, bebadachama
Também
ILUSTRAÇÃO: AXEL SANDE
Filho do músico Cesar Faria, Paulinho da Viola cresceu num ambiente
naturalmente musical. Na sua infância em Botafogo, bairro tradicional da zona
sul do Rio de Janeiro onde nasceu em 12 de novembro de 1942, teve contado
constante com a música através do pai, violonista integrante do conjunto Época
de Ouro. Nos ensaios familiares do conjunto, Paulinho conheceu Jacob do
Bandolim e Pixinguinha, entre muitos outros músicos que se reuniam para fazer
choro e eventualmente cantar valsas e sambas de diferentes épocas.
Ao longo dos anos 70, Paulinho gravou em média um disco por ano,
ganhou diversos prêmios e se apresentou por diversas cidades no Brasil e no
mundo. Já nos anos 80, gravou mais quatros discos e manteve-se como um dos
principais nomes do samba no país. Nos anos 90, entrou numa nova fase, onde a
imprensa e os críticos passaram a vê-lo como um músico mais sofisticado e
maduro. Mesmo sem perder seu apelo popular, Paulinho gravou um de seus mais
importantes trabalhos, Bebadosamba e
montou o espetáculo homônimo.
O trabalho de Paulinho hoje é visto como um elo entre diversas
tradições populares como o samba, o carnaval e o choro, além de suas incursões
em composições para violão e peças de vanguarda. Um dos maiores representantes
do samba e herdeiro do legado de músicos como Cartola, Candeia e Nelson
Cavaquinho mostra que está sempre se renovando e produzindo sem abandonar seus
princípios e valores estéticos.
Fonte: http://www.paulinhodaviola.com.br
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