quarta-feira, 30 de maio de 2018

E O AMOR SAIU PELA JANELA (11): ADERBAL, QUEM LHE MANDOU?

Resultado de imagem para imagens ilustração saudade
Ilustração: Arquivo Google


Dito e Dita num ponto sempre concordaram. Aqui se faz. E aqui se paga. Caro.

Aderbal pagou.

Não por falta de aviso, porque Benedita, a Dita, filha do velho Dito, nunca foi mulher de mandar recados. Nem de ameaçar. Censurava Aderbal com o olhar certeiro, certo? Quem tivesse tino que entendesse. Do contrário, amargaria a solidão. 

Aderbal não entendeu picas. Morreu só.

Pobre Aderbal.

Aderbal não acreditou nos avisos que não vieram por escrito. Só por olhares. 

Aderbal, homem antigo, só acreditava no escrito. Prova disso é que jogava no bicho. 

Aderbal se embriagou, achou que o fígado e a paciência de Dita seriam para sempre. 

Aderbal – um homem de tino miúdo. Não mau, necessariamente. Criou filhos. Deu-lhes o conforto possível. Trabalhou pra caralho. Aderbal, tolo.

Depois que tomou o pé na bunda, Aderbal percebeu que não eram para sempre: a paciência de Dita e o fígado. A solidão é foda. Aderbal foi ao limite. Que graça viver, se o amor acabou?

Aderbal morreu atropelado. De tanto beber. 

Dita encomendou uma missa pela paz que Aderbal nunca teve em vida.

Deus é pai, Aderbal.

(Maio de 2018)


Nenhum comentário:

Postar um comentário