sexta-feira, 3 de março de 2017

PQP, BRASIL!

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BOLINHO DE ARROZ: SANTO REMÉDIO  (*)


Carneiro sentiu-se na obrigação de lembrar ao Velho Marinheiro – seu melhor freguês, o único a lhe pagar as despesas à vista, ou, na pior das hipóteses, no dia seguinte – que era sábado. Para quem não sabe, no melhor boteco da Vila Invernada, o que não significa muito, sábado é dia de bolinho de arroz com fiapos de bacalhau, uma especialidade da casa muito apreciada por todos que ali marcam ponto, em especial pelos caloteiros.

-- Agora, não, Carneiro. Mais tarde, talvez, se meu humor melhorar.

Ananias não demorou a chegar. Assim que avistou o Velho Marinheiro, tratou de fazer o que sempre fazia nos dias em que seu amigo estava visivelmente irado: preparar os ouvidos e a alma para o que desse e viesse. Tudo bem. Ele sabe que os desabafos do nosso Lobo do Mar são breves, embora contundentes. Não precisou ir além do bom-dia:

-- Ananias, como alguém pode ter um bom dia num país de vagabundos como o nosso, me diga?

-- O que houve? – quis saber o jornalista "aposentado" pelo mercado, mas sem receber qualquer benefício da Previdência.

-- No início do mês, minha filha foi até o INSS. Obteve boa notícia: conseguiu, depois de trinta e tantos anos de trabalho, a aposentadoria integral.

-- Parabéns. Por que a irritação, Velho Marinheiro?

-- Disseram a ela que, dentro de um mês, receberá uma carta confirmando o valor do benefício e o total dos atrasados. A carta ainda não veio. Mas a vida dela virou uma caceteação. Todos os dias pulhas lhe telefonam, várias vezes, de diferentes empresas, para lhe oferecer o tal de crédito consignado. “A senhora tem a seu dispor um crédito de até não sei quantos mil reais.” Ora, é o pessoal do INSS que passa as informações para esses vagabundos. Nome completo, endereço e telefone, tudo. Quem autorizou a canalha a fazer isso? Cadê sua privacidade? É evidente que os ordinários não repassam aos bancos e a outras empresas de crédito tais informações de graça. Pode uma coisa dessas?

-- Não, não pode. Mas é assim mesmo.

-- Assim mesmo o cacete. Ananias, uma coisa dessa não pode ser. Você não tem paz nem na sua própria casa. Um inferno. O telefone não para de tocar. Para se livrar dessa gente, é preciso ter paciência de Jó. Coisa que jamais tive.

Experiente no trato com o Velho Marinheiro, Ananias promoveu uma breve pausa - estratégica e silenciosa -, para reabastecer os copos e fumar um cigarrinho na calçada. Tempo suficiente para o Velho Marinheiro esfriar a cabeça.

-- O senhor tem razão. O Brasil virou um bordel.

-- Não ofenda as putas, Ananias.

-- Vou pedir ao Carneiro uns bolinhos de arroz, que tal?

-- Uma boa. Ananias, seus ouvidos generosos e os acepipes do Carneiro me fazem um bem danado. Se não me trazem de volta a paciência que nunca tive ao menos adiam o infarto.   

(*) FOTO: ARQUIVO GOOGLE

(OS – FEVEREIRO DE 2017)

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JEJUM




Segunda-feira. O telefone toca, o coitado atende. Uma, duas, três vezes. 
Com a educação possível...
Por Orlando Silveira
 
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