quarta-feira, 1 de março de 2017

ABUJAMRA DECLAMA CLÓVIS CAMPÊLO

                                                                                     caricatura: BAPTISTÃO






AUTORRETRATO

Sou a reta e sou a curva,
a mão esquerda e a direita,
o verão na praia do Pina
e a chuva que adoça o caju.

Sou a revolução que não houve,
as dúvidas da certeza
e a alegria das dúvidas.

Sou o pai e sou o filho,
o vento que anuncia tempestades,
o raio que corta o céu ao meio
no meio da tarde.

Sou martelo agalopado,
entidade de corpo fechado,
soneto na nova medida
e a bandeira de São João.

Sou Elefante e Pitombeiras,
sou o Galo da Madrugada,
sou o barulho da feira
e o som da procissão.

Sou o amarelo de Nossa Senhora
e o azul de Iemanjá,
sou calmaria sem vento,
sou selva de pedra e cimento,
relva plantada no chão.

Sou o tudo e sou o nada,
o silêncio e a batucada;
sou o sul e sou o norte,
faca cega e navalha de corte.

Eu sou o fogo da vida
e sou o sopro da morte!

(Clóvis Campêlo)

***


Antônio Abujamra (Ourinhos, 15/09/1932 – São Paulo, 28/4/2015), diretor de teatro, ator e apresentador de tevê, foi um dos primeiros a introduzir os métodos teatrais de Bertolt Brecht e Roger Planchon em palcos brasileiros. Era conhecido por sua irreverência, suas encenações e por seu humor ácido e crítico em relação aos tabus sociais.

Abujamra estudou filosofia e jornalismo na PUC-RS, onde iniciou sua carreira como ator, na segunda metade dos anos 1950, na peça Assim é se lhe parece, de Pirandello. Comandou o programa Provocações, da TV Cultura, por quase 15 anos. Como apresentador adotou um estilo audacioso de fazer entrevistas. (Fonte: Wikipédia)

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