terça-feira, 31 de dezembro de 2013

ATÉ SEMPRE

SEM PROMESSAS

Amigas, amigos: boa sorte em 2014 e sempre.
Não sou homem de aconselhar.
Que cada um faça da vida o que lhe parecer melhor.
O que lhe for possível fazer.
Não vou prometer isso ou aquilo.
Em 2014, se Deus me permitir, vou fumar meus cigarrinhos, tomar minhas lapadinhas, curtir netos e bisnetos, amar Mafalda, de canto sabiá...
E vou continuar lhes querendo imensamente bem.

VELHO MARINHEIRO,
SEU LOBO DO MAR



NÚBIA NONATO

ADORNO

No cabelo pixaim
fita colorida pra
enfeitar.
No corpo, prenúncio
de mulher, vestido
de chita pra adornar.
Na cabeça fervilhante
apinhada de senãos

sonhos a borbulhar.

sábado, 28 de dezembro de 2013

UM POUCO DE NÉLSON FERREIRA




  
Apesar de ser torcedor do Santa Cruz, o maestro Nélson Ferreira nunca compôs um hino para o clube do seu coração. Ao contrário, compôs o hino do bloco Timbu Coroado, troça que no domingo de carnaval desfilava pelas ruas do bairro dos Aflitos, onde fica a sede do Clube Náutico Capibaribe, além do frevo “Come e Dorme”, feito em homenagem aos jogadores reservas do clube alvirrubro. Como se isso não bastasse, em 1955, a pedido de um jovem amigo da época, compôs o frevo canção “Cazá Cazá Cazá”, em homenagem ao clube da Ilha do Retiro.

Tal situação só foi corrigida em 2008, quando o Maestro Forró, também torcedor do tricolor do Arruda, utilizando os acordes de uma música inacabada do maestro Nélson, criou o frevo “Vulcão Tricolor”, saldando a dívida e satisfazendo e saudando a imensa torcida coral.

Hoje, quando se completa 37 anos da morte do maestro pernambucano, ocorrida em 1976, essa história irônica nos vem à lembrança. Mas, embora continue sendo muito mais conhecido como um compositor de frevos, Nélson Ferreira foi autor de músicas em gêneros e estilos diversos (tangos, canções, valsas, foxtrotes, etc).


Nascido na cidade de Bonito, no agreste do Estado, em 9 de dezembro de 1902, segundo alguns estudiosos seus, até hoje Nélson Ferreira é um dos compositores nordestinos com mais músicas gravadas na discografia brasileira, muito embora a sua fama tenha praticamente se restringido a Pernambuco e ao Nordeste.

Como músico, tocava violão, violino e piano. No Recife, tocou em bares, cafés, saraus e cinemas, numa época em que os filmes do cinema mudo eram acompanhados com música ao vivo.

Como compositor, fez a sua primeira música, a valsa “Vitória”, aos 14 anos, por encomenda. Compôs frevos antológicos, como “Evocação nº 1”, sucesso no carnaval do Rio de Janeiro em 1957, cantada em ritmo de marchinha carnavalesca.

Além disso, foi diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco e da Fábrica de Discos Rozemblit, a única existente fora do eixo Rio-São Paulo nos anos 50.

Sua fama como compositor de frevos era tão grande que nos anos 70 recebeu do presidente Emílio Garrastazu Médici a condecoração de Oficial da Ordem do Rio Branco.
Faleceu no Recife, no dia 21 de dezembro de 1976, deixando inacabado um disco que preparava para o carnaval de 1977.

Hoje, no Recife, em uma pequena pracinha na Rua dos Palmares, no bairro do Santo Amaro, construída no lugar de uma casa demolida onde o maestro morou, existe um busto erguido em sua homenagem.

Evoé, Maestro!

Recife, 2013


sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

DE HOMEM PRA HOMEM




O mais velho de todos (80) foi categórico:

- Depois dos 60, homem não presta.

O velho do meio (70) endossou a opinião do decano:

- Viramos lixo sexual.

O mais sábio e mais novo dos velhos (60), 
botou ordem na casa de viração sem putas – o bar do Carneiro:

- Porra. Mas, depois de tantos anos, ninguém pensa nisso. 
Às rabanadas.  
Às sobras do Natal. Abaixo a insulina!


QUE BOM

De uma hora para outra, dez anos depois, todo mundo saiu correndo.

Não precisava ser assim.
Dez anos se foram.

BRUNO NEGROMONTE

2013, UM ANO PARA A MÚSICA
PERNAMBUCANA ESQUECER

Bruno Negromonte


A música pernambucana como um todo ficou substancialmente mais pobre ao longo do ano de 2013. Ela perdeu nomes que contribuíram de modo bastante efetivo nas últimas décadas para elevar o nome e a cultura do estado para o patamar que hoje é possível observá-la nos mais diversos gêneros que a constitui. No entanto, um gênero em especial, foi o que mais sentiu a perda de nomes emblemáticos em seu segmento: o forró.

Partiram nomes como Julio Nunes Pereira, ou melhor, Duda da Passira. Natural de Passira, no Agreste de Pernambuco, o instrumentista começou a carreira tocando forró pé-de-serra. Com seis discos e mais de dez CDs gravados, em 1991 foi indicado ao Grammy internacional na categoria música regional e veio a sucumbir devido a uma hemorragia digestiva que talvez tenha se agravado devido a diabetes a qual o músico também sofria; Outro que também partiu ao longo deste ano foi o cantor e compositor João Silva. Autor de mais de 2000 composições e inúmeros clássicos interpretados por nomes como Luiz Gonzaga e quase todos os cantores e intérpretes do gênero, João deixa-nos como legado canções como 'Nem se despediu de mim', 'Pagode Russo', 'Deixa a tanga voar' entre tantas outras com os parceiros mais diversos tais quais João do Vale, Onildo Almeida, Rosil Cavalcante, Severino Ramos, Bastinho Calixto, Pedro Maranguape e Pedro Cruz. Nascido em Arcoverde, a 259 quilômetros do Recife, João Leocádio da Silva, o João Silva, foi também um dos responsáveis direto do primeiro disco de ouro de Luiz Gonzaga, o álbum 'Danado de bom', que vendeu cerca de 1,6 milhão de cópias vendidas.

Outras lacunas deixadas ao longo deste ano foram ocasionadas pela partida de dois ases da sanfona. De um lado Arlindo dos oito baixos, considerado Patrimônio Vivo de Pernambuco. Nascido em Sirinhaém, Arlindo morou até a adolescência no Engenho Trapiche. Saiu da cana-de-açúcar para cortar cabelos no Cabo de Santo Agostinho. Foi lá que começou a tocar sanfona em bailes, instrumento que aprendeu vendo o pai tocar os Oito Baixos. Foi em um show no Parque de Exposição do Cordeiro que Arlindo conheceu Luiz Gonzaga. Passou 22 anos tocando com o Rei do Baião. "Ele que me fez voltar aos oito baixos. Disse que já tinha sanfoneiro demais, mas ninguém tocava oito baixos. Gravei e na hora de assinar os créditos ele pediu pra trocar Arlindo do Acordeom por Arlindo dos 8 Baixos", lembrou, em entrevista pouco antes de morrer. Em mais de 50 anos de carreira, Arlindo gravou mais de 200 músicas, a maioria instrumental. O outro expressivo nome foi Dominguinhos, parceiro e discípulo do maior nome do gênero ao qual tão bravamente defendeu: Luiz Gonzaga. Dominguinhos foi um dos responsáveis não só pela urbanização do forró mais também por manter viva a chama do ritmo em todo o país depois da morte do Rei do Baião. Dominguinhos partiu aos 72 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo depois de lutar por cerca de seis anos contra um câncer de pulmão. Nascido em Garanhuns, no agreste de Pernambuco, o sanfoneiro conheceu Luiz Gonzaga com 8 anos. Aos 13 anos, morando no Rio, ganhou a primeira sanfona do Rei do Baião, que três anos mais tarde o consagrou como herdeiro artístico. “Gonzaga estava divulgando para a imprensa o disco 'Forró no Escuro' quando ele me apresentou como seu herdeiro artístico aos repórteres”, lembrava Dominguinhos sempre que questionado sobre o assunto. Instrumentista, cantor e compositor, o artista ganhou em 2002 o Grammy Latino com o “CD Chegando de Mansinho”. Ao longo da carreira, fez parcerias de sucesso com músicos como Gilberto Gil, Chico Buarque, Anastácia, Nando Cordel, Fausto Nilo e Djavan.



Já o frevo perdeu Carlos Fernando vítima de complicações causadas por um câncer de próstata. Natural de Caruaru, o pernambucano foi um dos responsáveis pela renovação do frevo não só em Pernambuco, mas em todo o país através do projeto "Asas da América" e a série de discos lançados até meados da década de 1990. Ainda na mesma década foi responsável pela série Recife Frevoé e nos anos de 2000 foi o produto do álbum "100 Anos de frevo - É de perder o sapato", em homenagem ao centenário do ritmo. Carlos, ao lado de outros artistas pernambucanos, também participou do Movimento de Cultura Popular de Pernambuco - um dos focos da resistência ao governo militar no estado - ainda na década de 60 e foi autor, entre diversas composições, de "Banho de Cheiro", eternizada na voz de Elba Ramalho; "Canta Coração", eternizada por seu parceiro e amigo Geraldo Azevedo. No currículo, o pernambucano deixa como legado centenas de canções (boa parte com Geraldo Azevedo) e intérpretes como Caetano Veloso, Djavan, Chico Buarque, Jackson do Pandeiro e Gilberto Gil.

Não poderia também deixar em branco o infortúnio que vitimou de modo precoce a produtora japonesa Sanae Shibata, de 31 anos. Sanae, que morava no Recife há 10 anos e trabalhava como produtora musical, com trabalhos diversos ligados à valorização da música pernambucana, foi vítima de um atropelamento de moto.

Nascida em Tóquio, e formada em Comunicação Social pela Universidade em Tóquio, estudou cultura nordestina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), onde também participou do Programa de Pós-Graduação em Antropologia. "Desde 2004 trabalho como produtora cultural, na acessoria entre produtores japoneses e artistas nordestinas", dizia seu perfil no portal Nação Cultural. A produtora fazia a ponte entre Pernambuco e Japão, levando discos do Estado para a Terra dos "olhos puxados" e desde 2007, Shibata trabalhava com patrimônio imaterial, como pesquisadora de campo para levantamentos pelo Iphan, explorando "Formas de expressão de Pernambuco e Cocos do Nordeste". A produtora aprendeu a tocar e fabricar a rabeca, instrumento típico do Cavalo Marinho nordestino, na escola de luthieria em Ferreiros, na Zona da Mata Pernambucana.

Por fim, a menos de uma semana, perdemos um dos maiores expoentes do ritmo "brega" que foi Reginaldo Rossi. Com quase 50 anos de carreira Rossi soube como poucos expor as dores e lamentos dos traídos nos 31 discos que lançou. Deixa como legado a irreverência e a imagem peculiar acompanhado por sua cabeleira e seus óculos.

Se de um lado as coisas são desfavoráveis, por outro este ano foram lançados, até agora, entre CDs, DVDs, LPs e EPs, mais de 180 títulos de artistas pernambucanos e a Passa Disco, trincheira de resistência da cultura do estado, chegou a uma década de existência valorizando de modo cada vez mais constante a cultura de Pernambuco.




quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

UMA VELHINHA FELIZ

Cadê a velhinha?


Vida difícil, a dela.
A velha não conseguia dar o passo.
Manter-se sentada era difícil também.
Mas era véspera de Natal, dia de visitas.
Tinha porque tinha que parecer aprumada – e estava!
A velhinha sentada, com vestido florido, banho tomado, calcinha de enterro, fez seu papel: 
engoliu um naco de pão doce, disse obrigado, até logo, boas festas, antes de tomar tapa nas costas pra desengasgar.


NÚBIA NONATO

SEU CÍCERO

Núbia Nonato



Garimpeiro aposentado
cheio de experiência.
Viveu de tudo um pouco
de milionário a louco.
Em Serra pelada
ele enriqueceu,
mas o dinheiro vinha fácil
e então tudo perdeu.
Dos seus dias de glória
restou-lhe apenas
a boca ornada de ouro,
seu orgulho e tesouro.
Hoje, avô de tantos netos
com tantas histórias pra contar
de que valia essa experiência
se nada podia  comprar?
Decretou que esse ano
seria diferente
que a todos presentearia
neto a neto
sem exceção.
Mas, com os bolsos vazios
o que faria então?
Ocorreu lembrar-se
que em sua boca
estava a solução
e, sem pensar duas vezes
arrancou-os com precisão.
Desse louco apaixonado
que tomo por meu avô,
ficou uma saudade imensa
do seu sorriso murcho
e do brilho dos seus olhos
plenos de amor.




terça-feira, 24 de dezembro de 2013

FELIX NATAL

25 de Março.
Foi até lá com a fé improvável de sempre.
O dinheirinho miúdo no bolso lhe permitiu comprar quinquilharias, duas ou três.
O resto lhe foi roubado.
O caldo de cana com pastel lhe custou os olhos da cara.
Voltou pra casa, quase feliz.
Sem ver o Felix.

Aprendeu que a vida não é novela.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

PRETINHO BÁSICO

Todo ano é a mesma água: tento ser criativo, quero lhes dizer isso e aquilo
– o óbvio –, de forma diferente.

Bobagem. Trabalho inútil.

O desejo de que todos fiquemos bem vale mais que a forma, não?

BOAS FESTAS, amigos.

Alegria sempre.

Tristeza é bobagem que não devemos chamar de nossa. Jamais.

Até sempre, queridos.

domingo, 22 de dezembro de 2013

SENHOR

 Não me queira mal por chegar assim: de mãos abanando.
Cheguei como pude, mas cheguei.
Sem terno, mortalha, roupinha melhor.
Sem a compostura devida.
Coisa assim – compostura devida – nunca foi minha praia.
Venho como vivi: quase pelado. 
De bermuda ordinária, camiseta simples, chinelos.
Assuntando inutilidades.
Com cigarros no bolso, caixinha de fósforo na mão...

Pode fumar aqui, Senhor?

IMAGEM: CLÓVIS CAMPÊLO

E JOÃO OLHA O RIO.
NÃO COM OS OLHOS 
DE QUALQUER JOÃO.
MAS COM OS OLHOS
DE JOÃO CABRAL.
O MELLO NETO É POESIA.
DA MELHOR QUALIDADE 


Foto: Clóvis Campêlo

HORA DA VITROLA: GONZAGÃO





APOLOGIA AO JUMENTO
(JUMENTO É NOSSO IRMÃO)
Luiz Gonzaga

É verdade, meu senhor
Essa história do sertão
Padre Vieira falou
Que o jumento é nosso irmão
Ao ao ao ao ao ao

O jumento é nosso irmão
Quer queira, quer não

O jumento sempre foi
O maior desenvolvimentista
Do sertão...

Ajudou o homem na vida diária
Ajudou o homem...
Ajudou o Brasil a se desenvolver

Arrastou lenha...
Madeira...pedra, cal, cimento , tijolo...telha
Fez açude, estrada de rodagem, carregou água pra casa do homem...fez a feira e serviu de montaria
O jumento é nosso irmão...

E o homem...
em retribuição o que, que lhe dar?
Castigo...pancada, pau nas pernas, pau no lombo,
Pau no pescoço, pau na cara, nas orelhas.
Ha...jumento é bom o homem é mal

E quando o pobre não agüenta mais o peso
De uma carga, e se deita no chão...
Você pensa que o homem chega ajuda
O bichinho se levantar? Hu...pois sim
Faz é um foguinho debaixo do rabo dele
O jumento é bom...
O jumento é sagrado...o homem é mau.

O homem só presta pra botar apelido no jumento
O pobrezinho tem apelido que não acaba mais
Babau, gangão, breguesso, fofarkichão,
Imagem do cão, musgueiro, corneteiro, seresteiro,
Cineiro...relógio, é....ele dar a hora sertã no sertão
Tudo isso é apelido que o jumento tem...
Astronauta...professor, estudante...
advogado das bestas...

é chamado de estudante, porque quando o estudante não sabe a lição da escola
o professor grita logo
você não sabe porque você é um jumento
e o estudante pra se vingar boto o apelido
jumento de professor, porque o professor ensina ele de graça...pos sim, quem ensina ele de graça
é o jumento meu filho...é assim...
A E I O U U
SINONIMO, SINONIMO,
SINONIMO, SINONIMO,
SINONIMO, SINONIMO,
Só não aprende a ler quem não quer
Esse é nosso jumento nosso irmão
Animal sagrado...
Serviu de transporte pro nosso senhor
Quando ele iria para o Egito, quando o nosso senhor era perritotinho...

Todo jumento tem uma cruz nas costas
Não tem? Pode olhar que tem...
Todo jumento tem uma cruz nas costas
Foi ali que o menino santo fez o pipizinho
Por isso ele é chamado de sagrado
A ha ha...jumento meu irmão,
o maior amigo do sertão

ele é cheio de presepada sim senhor
uma vez ele me fez uma menino,
que eu não me esqueci mais
quando dar as primeiras chuvas no sertão,
agente planta logo um milhozinho
no monturo da casa da gente, porque dar ligeiro
e é milho doce, dar ligeirinho, ligeirinho
o jumento cismou de ser meu sócio
eu disse eu pego ele...
quando ele invadiu minha roça...he...
eu preparei uma armadilha, cheguei perto dele
comendo meu milho em...vou lhe pegar
ele balançou a cabeça, ligou as Atenas
torceu o rabo torceu, torceu, torceu
deu corda e disparou...
deu um pulo tão danado na cerca
que nem triscou na minha armadilha
correu uns 10 metros, fez meia volta, olhou pra mim e me gozou...seu Luiz...seu Luiz
comi seu milho...e como e como e como e como
filho da peste comeu mesmo...

mas eu gosto dele...
porque ele é servidorzinho que é danado
animal sagrado...jumento meu irmão eu reconheço teu valor...tu és um patriota, tu és um grande brasileiro...eu to aqui jumento, pra reconhecer o teu valor meu irmão...

Agora meu patriota, em nome do meu sertão
acompanha seu vigário, nesta eterna gratidão
aceita nossa homenagem
o jumento é nosso irmão ao ao ao ao ao ao ao ao



sábado, 21 de dezembro de 2013

QUATRO QUEIJOS

 -
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E eles todos chegaram.
Com a fé ordinária dos hipócritas.
À sua revelia, definiram funções.
Recomendaram tarefas, suas tarefas.
Encomendaram uma pizza.
E dormiram felizes.


HORA DA VITROLA: GONZAGUINHA

O QUE É?
O QUE É?



Eu fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
Viver e não ter a vergonha de ser feliz,
Cantar,
A beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será,
Mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!
E a vida? E a vida o que é, diga lá, meu irmão?
Ela é a batida de um coração?
Ela é uma doce ilusão?
Mas e a vida? Ela é maravilha ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é, meu irmão?
Há quem fale que a vida da gente é um nada no mundo,
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo,
Há quem fale que é um divino mistério profundo,
É o sopro do criador numa atitude repleta de amor.
Você diz que é luta e prazer,
Ele diz que a vida é viver,
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é, e o verbo é sofrer.
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé,
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser,
Sempre desejada por mais que esteja errada,
Ninguém quer a morte, só saúde e sorte,
E a pergunta roda, e a cabeça agita.
Fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
É a vida! É bonita e é bonita!




ELES – OS SETE!

Se a gente pensar bem,
os sete pecados capitais estão mais pra veniais que pra capitais.
Tenho pra mim que Francisco, papa da hora, já pensou nisso.

Vejamos:

LUXÚRIA
Deu vontade de acarinhar as partes baixas.
Nem isso o liga pode mais?

IRA
Um dia, depois de anos, o cara toma coragem
 de chamar sua mãe, "querida" esposa,
 pelo nome de guerra,
com a veemência de um genro estressado.
Nem isso o liga pode mais?

GULA
Como é bom comer.
O vizinho não tem culpa de a vizinha ser assim e assado,
assanhada.
Nem isso – pensar – o liga pode?

INVEJA
Ejaculação precoce é tratável.
Vigor dos vinte e poucos anos ninguém devolve.
É pecado invejar isso?

PREGUIÇA
Poucos trabalharam de fato.
Mata o mundo?

SOBERBA
Se pagar as contas, está tudo (quase) certo.

VAIDADE
Ela jamais se esquecerá de mim.
Tenho culpa se isso é verdade?





JÁ ERA



E ele foi pra cova bonitinha, caiada, como convém aos emergentes, repetindo a cantilena ordinária:


-- Que merda! Que merda. Errei muito em pensamentos, tão pouco em ações.

CLÓVIS CAMPÊLO

UM GALEGO DA PARAÍBA



Com certeza, a Paraíba não é apenas feitas de zés, como diz Jackson do Pandeiro na sua música “Como tem Zé na Paraíba”. Ele mesmo que se chamava José Gomes Filho, natural da cidade de Alagoa Grande, de baixo ou de riba, também era um Zé nascido na Paraíba.

Mas, por lá também proliferam os severinos nordestinados. E foi em Itabaiana, no dia 26 de maio de 1930, que veio à luz um severino cujo destino era torna-se famoso no mundo inteiro empunhando uma sanfona, entre outros instrumentos.

Distante aproximadamente 70 quilômetros da capital do Estado, João Pessoa, e com sua população estipulada hoje em pouco mais de 24 mil habitantes, a cidade foi o berço natal de Severino Dias de Oliveira, mais conhecido como Sivuca.

Predestinado, aos nove anos de idade, em 1939, no dia de Santo Antônio, ganhou uma sanfona de presente do pai, aventurando-se a tocá-la em feiras, festas e batizados.

Aos quinze anos de idade, chegou ao Recife, contratado para tocar na Rádio Clube de Pernambuco, depois de se apresentar em um programa de calouros comandado pelo jornalista Antônio Maria e despertar a atenção do maestro Nélson Ferreira. No Recife, também integrou posteriormente o cast da Rádio Jornal do Commercio.

Em 1955, mudou-se para o Rio de Janeiro. De lá para outros lugares do mundo, foi um pulo. Morou em Lisboa, Paris e Nova York, onde durante anos trabalhou com Miriam Makeba, sendo responsável, inclusive, pelo arranjo da música “Pata Pata”, seu maior sucesso. Na terra de Tio Sam, após ter se desligado de Makeba, em 1969, dirigiu musicais e trabalhou ao lado de gente famosa como Betty Midler e Paul Simon, além de Hermeto Pascoal e Airto Moreira.

Em maio de 2003, Sivuca retorna para a sua Paraíba natal, fixando residência em João Pessoa. No ano seguinte, descobre que o câncer nas glândulas salivares, contra o qual lutava desde 1968, espalhara-se, atingindo o pulmão.

Mesmo com o estado de saúde se agravando, Sivuca continua trabalhando e compondo. Em 14 de dezembro de 2006, vem a falecer em consequência de uma insuficiência respiratória provocada pelo edema pulmonar.

O seu enterro, em João Pessoa, foi acompanhado por uma pequena multidão.

Recife, 2013


 
Mestre Sivuca






sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

RUTH É NOSSA.. E PERNAMBUCO TAMBÉM



Estou devendo uma crônica afetuosa aos amigos de Pernambuco. 
O talento, raro, foge pelos ralos: a dívida perdura.
Coisa boa demais ter feito tantas novas amizades, reatado outras.
Ano bom.
Gente de Pernambuco é gente culta, sabida – por estudiosa.
E orgulhosa de seu patrimônio cultural.
Sabe aquele baita poeta? 
É de Pernambuco.
Sabe aquele arquiteto fantástico? 
É de Pernambuco.
Quem não é de lá.... ali se criou. 
Bote reparo.
Está pra chegar o dia em que meu irmão,
 nosso Quincas, 
fará a biografia não autorizada de
RUTH. 
Só me faltava esta!
RUTH ser de lá.
Se for, maravilha.
Viva Pernambuco.
Obrigado, amigos.

BOM CONSELHO



Está mais velho, esquecido?
Calma: nem tudo é demência. Nem tudo é aquela doença alemã.
Compre uma agenda pra marcar os compromissos.
Não se fie na memória.

E não se esqueça de contratar uma secretária para abri-la todos os dias.

wikipedia.org

HORA DA VITROLA: LEGIÃO URBANA






LETRA DE RENATO RUSSO


Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?

Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade
Como eles disseram

Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse
- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir
Festa estranha, com gente esquisita
- Eu não estou legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
- É quase duas, eu vou me ferrar

Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo

Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
De Van Gogh e dos Mutantes
Do Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda estava
No esquema "escola, cinema, clube, televisão"

E, mesmo com tudo diferente
Veio mesmo, de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia
Como tinha de ser

Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro e artesanato e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa
Que nem feijão com arroz

Construíram uma casa uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram

Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação

E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?